Um lugar no mundo: territorialidades e projeto de ser de participantes de um coletivo artístico-cultural de mulheres

Abstract

A cidade, como espaços de vida, é permeada por territorialidades que não são vividas da mesma maneira para todas as pessoas. O conceito de territorialidade é incompleto quando não incorpora a dimensão de gênero. A noção de projeto-de-ser destaca a pessoa como um vir-a-ser, que faz e refaz-se diante do que é feito com ela e pode ser concebido como uma biografia viva com implicações das relações com o outro que evidencia a importância das mediações e conduz a acepção de coletivos que possibilitam a constituição de grupos como elementos de um projeto de ser, da realidade humana e do mundo. A condição de ser mulher é imposta e revela múltiplas vulnerabilidades que devem ser superadas. Este estudo objetiva compreender como se estabelece a relação entre projetos de ser e projeto coletivo de mulheres de um grupo artístico-cultural na constituição de territorialidades em Manaus. Portanto, buscou-se: 1) apontar as aproximações entre psicologia ambiental e existencialista para compreensão de como se constituem as territorialidades no contexto urbano; 2) caracterizar atividades realizadas pelo grupo artístico cultural das mulheres participantes;3)Identificar os sentidos atribuídos pelas mulheres a partir das intervenções produzidas no território pelo grupo artístico cultural;4) Caracterizar o território e as territorialidades na cidade de Manaus a partir das mulheres participantes; 5) descrever as histórias de vida e projetos de ser de mulheres do grupo artístico cultural e 6) discutir o entrelaçamento dos projetos de ser na constituição deste movimento sociocultural na cidade referida. Adotou-se abordagem multimetodológica e com enfoque fenomenológico e dialético utilizou-se o método progressivo-regressivo que articula descrição fenomenológica da experiência e o aprofundamento da história da pessoa de forma contextualizada. Com o aparato da psicologia ambiental e existencialista, realizou-se a observação participante nos encontros do grupo; questionários aplicados com a coordenação do grupo; entrevista narrativa e aplicação de mapas afetivos com as participantes. Após aprovação do comitê de ética, 11 mulheres participaram da pesquisa sendo que apenas 10 participaram da entrevista narrativa antes e durante a pandemia no decorrer de 2020 e 2021. Os dados foram analisados com auxílio do software de análise qualitativa Atlas.Ti versão 9. Os achados indicaram concepções de territorialidades como forma de afetar, acessar, ocupar, transformar e comunicar a própria cultura em um território. Indicam ainda que a relação afetiva com a cidade importa na participação de grupos artísticos-culturais e oferece possibilidade de transformação da vivência no território. Territorialidades limitadas são reconfiguradas nos espaços públicos da cidade e no centro e é necessário adentrar a periferia. As participantes do coletivo artístico-cultural edificam um grupo artístico-cultural de mulheres com pautas feministas e engajamento político. Reconhecem a partir da sua experiência e da mediação do grupo formas de criar novas territorialidades e vivências no seu corpo-território. A tese defendida, diante dos pressupostos e achados desta pesquisa, é a de que participação em grupos, e neste caso em grupos artísticos-culturais de mulheres, por mais heterogêneo que seja pode ser viabilizadora de projeto-de-ser de mulheres e promovem experiências que constituem territorialidades que edificam e reivindicam um lugar seguro no mundo.

Abstract: The city, as spaces of life, is permeated by territorialities that are not lived in the same way for all people. The notion of territoriality is incomplete when it does not incorporate the gender dimension. The notion of projeto-de-ser highlights a person as a vir-a-ser, who faces and refutes before what he does with her and can be conceived as a living biography with implications of relationships as another that evidences importance of mediations and leads to the acceptance of collectives and groups as elements of a project of being, of human reality and of the world. A condition of being a woman is impost and reveals multiple vulnerabilities that must be overcome. This study aims to understand how the relationship between projects of being and the collective project of women of an artistic-cultural group is established in the constitution of territorialities in Manaus. Therefore, I sought: 1) to propose the approaches between environmental and existential psychology to understand how territorialities are constituted in the urban context; 2) characterize activities carried out by the cultural artistic group of the participating women; 3) Identify the meanings attributed by the women based on the interventions produced in the territory by the cultural artistic group; 4) Characterize the territory and the territorialities in the city of Manaus based on the participating women ; 5) discover the life stories and projects of being of women of the cultural artistic group and 6) discuss or intertwine two projects of being in the constitution of this sociocultural movement in the city referred to. Adotou-se multimethodological approach, valued by environmental psychology for using different methods of research according to people-environment. It proposes a research with a phenomenological and dialectical approach, using a progressive-regressive method that consists of a phenomenological description of the experience, and not an in-depth study of the contextualized history of the person. As an apparatus of environmental and existential psychology, participant observation was carried out in group meetings and trials; questionnaires applied to the coordination of the group; narrative interview and application of affective maps with the participants. The research was approved by the UFSC ethics committee. The given forms were analyzed with the help of the Atlas.Ti version 9 qualitative analysis software. The above indicated conceptions of territorialities as a way of affecting, controlling, accessing, occupying, transforming and communicating one's own culture in a territory. It also indicates that the affective relationship with the city matters in the participation of artistic-cultural groups and offers the possibility of transforming the experience in the territory. Limited territories are reconfigured in the public spaces of the city in the center and it is necessary to enter the periphery. The participants of the artistic-cultural group find themselves in an artistic-cultural group of women with feminist guidelines and political involvement. From his experience and from the mediation of the group, we recognize ways of creating new territorialities and experiences not in their corpo-territory. This is defended, given two presuppositions and assumptions of this research, is that participation in groups, in this case in artistic-cultural groups of women, however heterogeneous it may be, can be a viable project-of-being for women and promote experiences that constitute territorialities that build and claim a safe place in the world.