Imagens de uma fronteira perdida: os muçulmanos idealizados do Cantar de Mio Cid (séculos XI-XIII)

Abstract

Com seu manuscrito original datado de 1207, o Cantar de Mio Cid é uma das fontes fundamentais da história e da identidade espanhola, tendo sido ao longo do tempo reivindicada e ressignificada por diferentes agendas. A presente pesquisa debruça-se sobre as idealizações construídas pela narrativa para se referir aos sujeitos muçulmanos, objetivando compreender os possíveis anseios e expectativas da fonte ao exaltar o espaço da fronteira e a convivência entre cristãos e muçulmanos em um contexto de acirramento das tensões entre o reino de Castela e o califado Almóada. Para tanto, conta-se com a hermenêutica imaginativa de Márcia Schuback como metodologia de análise de fontes medievais, aliada às considerações de Márcia de Medeiros e Paul Zumthor acerca da relação entre oralidade e texto escrito no medievo. Nessa perspectiva, será trabalhado o conceito de entrelaçamentos transculturais, a partir das contribuições de Aline Dias da Silveira, buscando entender tais idealizações como frutos de processos de integração e diplomacia entre cristãos e muçulmanos no início do século XIII. Parte-se da hipótese de que é possível identificar no Cantar de Mio Cid uma idealização do espaço e das relações fronteiriças construída a partir dos entrelaçamentos entre muçulmanos e cristãos.