Entre a criança e a cidade: medos e afetos

Abstract

O livre ir-e-vir por ambientes urbanos de qualidade é fundamental para o pleno desenvolvimento infantil. O gradual declínio da mobilidade infantil independente––exploração pela criança dos seus arredores residenciais, sem a supervisão de um adulto––em vários países tem, portanto, preocupado autoridades públicas. Diante da escassez de estudos abordando esta questão urbana, foi realizada uma pesquisa qualitativa com crianças, entre 6 e 12 anos (incompletos), na cidade de Belo Horizonte (Brasil). Este estudo objetivou explorar, a partir dos olhares das crianças, quais aspectos impactam na qualidade da experiência urbana e, por conseguinte, na mobilidade infantil independente. A geração de dados pelas crianças envolveu a aplicação de entrevistas, desenho- e foto-elicitação. Fez-se uso da análise temática indutiva e triangulação para análise qualitativa dos dados e validação dos resultados, respectivamente. Verificou-se que apesar de diferentes medos permearem a experiência urbana das crianças, estas têm sido capazes de perceber e atualizar affordances positivas de natureza emocional, funcional e social.

Free movement through quality urban environments is essential for children's full development. The gradual decline of independent child mobility––children's exploration of their residential surroundings without adult supervision––in several countries has therefore worried public authorities. Given the scarcity of studies addressing this urban issue, qualitative research was carried out with children, between 6 and 12 years old (incomplete), in the city of Belo Horizonte (Brazil). This study aimed to explore, from children's perspectives, which aspects impact the quality of the urban experience and, therefore, independent child mobility. The generation of data by the children involved the application of interviews, drawing and photo-elicitation. Inductive thematic analysis and triangulation were used for qualitative data analysis and validation of results, respectively. It was found that despite different fears permeating children's urban experience, they have been able to perceive and update positive affordances of an emotional, functional and social nature.