Ambiente percebido do bairro e a trajetória de atividade física estão associadas à incidência de comprometimento cognitivo leve: resultados da coorte EpiFloripa Idoso 2009-2019

Abstract

O crescimento da população idosa tem levado ao estudo da função cognitiva dos idosos e ao surgimento do Comprometimento Cognitivo Leve (CCL). É importante compreender como as características do ambiente do bairro podem afetar a cognição desses idosos. Além disso, é necessário investigar os efeitos positivos da atividade física na incidência de CCL, do ponto de vista da saúde pública. O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre as características do ambiente do bairro, a trajetória de atividade física e a incidência de CCL em idosos de Florianópolis, SC. O estudo foi realizado longitudinalmente, com base nos dados do Estudo EpiFloripa Idoso 2009/2010 e seguimentos realizados em 2013/2014 e 2017/2019. A amostra incluiu idosos acompanhados longitudinalmente. A incidência de CCL foi avaliada usando o questionário Mini-Mental State Examination (MMSE), enquanto a percepção do ambiente do bairro foi avaliada usando uma adaptação da escala internacional Neighborhood Environment Walkability Scale (A-NEWS). A trajetória de atividade física moderada a vigorosa no domínio do lazer foi obtida por meio do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Foram realizadas análises estatísticas descritivas para caracterizar a amostra do estudo e apresentar a prevalência dos resultados. Em seguida, foi verificada a incidência cumulativa de CCL. A associação entre a incidência de CCL, as características do ambiente do bairro e a atividade física foi testada usando regressão logística binária. Os resultados foram considerados significativos com p < 0,05. A amostra do estudo incluiu 731 idosos, sendo a maioria mulheres (66,6%), com idades entre 67 e 108 anos e média de idade de 76,5 anos. O tempo médio de acompanhamento foi de 8,1 anos. A proporção de idosos com CCL aumentou de 19,3% no início para 22,3% no final do acompanhamento. Em relação à percepção do ambiente do bairro, a maioria dos idosos teve uma percepção média da infraestrutura para caminhar (46,4%) e uma alta percepção da estética da vizinhança (62,7%). No entanto, apenas 17,1% tiveram uma alta percepção de segurança no trânsito e 28,6% perceberam alta segurança em relação à criminalidade. Quanto à trajetória de atividade física moderada a vigorosa, a maioria dos idosos não praticava no início (66,5%) e esse número aumentou para 70,2% no final do acompanhamento. Foram identificados 104 novos casos de CCL, com uma incidência cumulativa de 21 por 1000 pessoas-ano. Em relação às associações, os idosos que percebiam o bairro como mais seguro em relação ao trânsito apresentaram 46% menos risco de desenvolver CCL. Além disso, os idosos que se mantiveram ativos ao longo do tempo tiveram 60% menos risco de desenvolver CCL. Em conclusão, melhorias nas características do ambiente do bairro, considerando a segurança e o trânsito, podem ter um impacto significativo na redução da incidência de CCL na população idosa. Esses achados destacam a importância de fatores ambientais, além de fatores individuais, na prática de atividade física pelos idosos. Essas informações podem auxiliar na compreensão da atividade física nesse grupo populacional e na criação de políticas públicas voltadas para o planejamento urbano.

Abstract: The growth of the older adults population has led to the study of cognitive function in the older adults and the emergence of Mild Cognitive Impairment (MCI). It is important to understand how the characteristics of the neighborhood environment may affect the cognition of these older adults. In addition, it is necessary to investigate the positive effects of physical activity on the incidence of MCI, from a public health perspective. The objective of this study was to analyze the association between the characteristics of the neighborhood environment, the trajectory of physical activity and the incidence of MCI in older adults in Florianópolis, SC. The study was conducted longitudinally, based on data from the EpiFloripa Idoso Study 2009/2010 and follow-ups conducted in 2013/2014 and 2017/2019. The sample included older adults followed longitudinally. The incidence of MCI was assessed using the Mini-Mental State Examination (MMSE) questionnaire, while the perception of the neighborhood environment was assessed using an adaptation of the international Neighborhood Environment Walkability Scale (A-NEWS). The trajectory of moderate to vigorous physical activity in the leisure time domain was obtained using the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Descriptive statistical analyses were performed to characterize the study sample and present the prevalence of the results. Then, the cumulative incidence of MCI was checked. The association between MCI incidence, neighborhood environment characteristics and physical activity was tested using binary logistic regression. The results were considered significant at p < 0.05. The study sample included 731 older adults, most of whom were women (66.6%), aged between 67 and 108 years, with a mean age of 76.5 years. The average follow-up time was 8.1 years. The proportion of older adults with MCI increased from 19.3% at baseline to 22.3% at the end of follow-up. Regarding the perception of the neighborhood environment, most older adults had a medium perception of the walking infrastructure (46.4%) and a high perception of the neighborhood aesthetics (62.7%). However, only 17.1% had a high perception of safety in traffic and 28.6% perceived high safety in relation to crime. Regarding the trajectory of moderate to vigorous physical activity, most older adults did not practice at the beginning (66.5%) and this number increased to 70.2% at the end of follow-up. 104 new cases of MCI were identified, with a cumulative incidence of 21 per 1000 person-years. Regarding associations, older adults who perceived the neighborhood as safer in relation to traffic had a 46% lower risk of developing MCI. In addition, older adults who remained active over time had a 60% lower risk of developing MCI. In conclusion, improvements in the characteristics of the neighborhood environment, considering safety and traffic, can have a significant impact on reducing the incidence of MCI in the older adults population. These findings highlight the importance of environmental factors, in addition to individual factors, in the practice of physical activity by older adults. This information can help in the understanding of physical activity in this population group and in the creation of public policies aimed at urban planning.