Avaliação da Interferência in vitro dos metabólitos da dipirona no exame químico da urina

Abstract

O uso de medicamentos representa riscos de possíveis interferências nos ensaios analíticos e podem modificar o diagnóstico clínico laboratorial. Os mecanismos de interferência de medicamentos nos resultados de exames laboratoriais são classificados como in vivo e in vitro. A dipirona é um dos medicamentos mais vendidos de forma livre no mundo, isentos de prescrição, para o alívio da dor e febre. A dipirona é considerada um pró-fármaco, pois é logo hidrolisada no trato gastrointestinal e gera vários metabólitos ativos, sendo os principais a 4-metilaminoantipirina (4-MAA), a 4-aminoantipirina (4-AA), a 4-acetilaminoantipirina (4-AAA) e a 4-formilaminoantipirina (4-FAA). Além disso, foi demonstrado que tanto a dipirona quanto os seus metabólitos interferem in vitro em alguns ensaios analíticos bioquímicos. A interferência dos metabólitos da dipirona no exame químico da urina pode levar a resultados incorretos, diagnósticos equivocados e procedimentos desnecessários. O exame de urina de rotina é um dos procedimentos laboratoriais mais solicitados que fornece informações que auxiliam no diagnóstico de doenças renais e das vias urinárias. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar a possível interferência dos quatro principais metabólitos da dipirona, 4-MAA, 4-FAA, 4-AAA, e 4-AA no exame químico da urina, mais especificamente sobre os parâmetros glicose, hemoglobina, proteínas e nitrito. Para tal, amostras de urina adicionadas de glicose, albumina, nitrito e hemoglobina foram analisadas na ausência e na presença de diferentes concentrações dos metabólitos da dipirona, utilizando-se as tiras reagentes INLAB, DIRUI e WAMA. Os resultados demonstraram que, nas concentrações adicionadas, os quatro metabólitos da dipirona, 4-MAA, 4-AA, 4-AAA e 4-FAA, não interferiram in vitro no exame químico da urina sobre os parâmetros glicose, proteína e hemoglobina utilizando-se as tiras reativas INLAB e WAMA. Apenas a 4-MAA interferiu na detecção do nitrito urinário quando se utilizou a tira reagente DIRUI, de forma não dependente da concentração. A tira reagente WAMA se mostrou a mais estável e a INLAB a menos estável na presença dos quatro metabólitos da dipirona. O leitor da tira reagente DIRUI apresentou resultados negativos de nitrito mesmo quando a região estava visivelmente rosa, podendo interferir significativamente na conduta clínica do paciente.