Conexões e resistências globais queer durante a Guerra Fria: movimentos LGBTQIA+ na ditadura militar brasileira e na Alemanha Oriental

Abstract

Essa tese pretende aproximar os campos da História Global e o dos Estudos de Gênero e Sexualidade, visto que, até então, ambos têm se interseccionado de forma bastante limitada. A partir do enfoque em dois contextos na Guerra Fria, a ditatura militar no Brasil e o regime ditatorial na Alemanha Oriental, é analisado de que forma ambos os lados da disputa ideológica encontraram na repressão às sexualidades dissidentes um instrumento político e discursivo. Além disso, é almejado também observar como tais sujeitos resistiram a estes regimes e construíram movimentos políticos em seus países. Utilizando documentos do movimento LGBTQIA+ brasileiro, parte do Arquivo Edgard Leuenroth em Campinas, e do movimento homossexual alemão oriental, disponível no Schwules Museum em Berlim, o trabalho dá especial destaque às conexões globais mantidas por estes grupos. Ao realizar tal análise, descontrói-se uma narrativa típica da Guerra Fria que desconsidera as diferentes iniciativas e os protagonismos transnacionais mantidos pelos dissidentes da cisheteronormatividade na Europa Central e do Leste e no Sul Global. Essa compreensão mais complexa e atenta às nuances e conexões globais atesta a proficuidade de um olhar global para a historiografia queer. Ao mesmo tempo, comprova a necessidade da História Global considerar a diversidade de gênero e sexualidade em seus empreendimentos.

Abstract: This dissertation aims to bring together the fields of Global History and Gender and Sexuality Studies, since both have intersected in a very limited way. With a focus on two contexts in the Cold War, the military dictatorship in Brazil and the dictatorial regime in East Germany, it is analyzed how both sides of the ideological dispute found a political and discursive instrument in the repression of dissident sexualities. Furthermore, it is also intended to observe how these subjects resisted these regimes and built political movements in their countries. Using documents from the Brazilian LGBTQIA+ movement, part of the Edgard Leuenroth Archive in Campinas, and the East German homosexual movement, available at the Schwules Museum in Berlin, the work gives special emphasis to the global connections maintained by these groups. When carrying out such an analysis, a typical narrative of the Cold War is deconstructed, which disregards the different initiatives and transnational roles maintained by dissidents of cisheteronormativity in Central and Eastern Europe and the Global South. This more complex understanding of global nuances and connections attests to the fruitfulness of a global look for a queer historiography. At the same time, it proves the need for Global History to consider gender and sexuality diversity in its endeavors.