Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos em isolados bacterianos de Procellariiformes no Sul do Brasil

Abstract

O número de bactérias com multirresistência a fármacos antibacterianos tem aumentado significativamente nas últimas décadas. A multirresistência bacteriana aos antimicrobianos resulta de mutações e da pressão seletiva causada pelo uso inadequado desses medicamentos, e confere uma vantagem adaptativa às cepas mutantes, representando uma grave ameaça à saúde pública. As aves migratórias Procellariiformes possuem um alto potencial de disseminação de bactérias multirresistentes a longas distâncias, pois elas percorrem grandes distâncias e habitam uma variedade de ambientes. Este estudo tem como objetivo avaliar a resistência aos antimicrobianos em isolados bacterianos de albatrozes, petréis e pardelas encalhados nas praias do Sul do Brasil, incluindo os estados de Santa Catarina e do Paraná. Uma vez que essas aves podem se tornar alvo de contaminação indireta a partir, por exemplo, do despejo incorreto de resíduos fecais humanos e animais em fontes aquáticas por esgotos domésticos, agrícolas e industriais. Tal avaliação justifica-se pelo aumento dos registros de bactérias multirresistentes registrados na fauna silvestre, e para monitorar a exposição dos animais a cepas bacterianas portadoras de genes de resistência, que podem ser disseminados pelos movimentos migratórios. Os dados foram obtidos de aves resgatadas para reabilitação e carcaças na Associação R3 Animal. As amostras foram coletadas como parte do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP/BS), exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) para o licenciamento ambiental da produção e transporte de petróleo e gás natural pela Petrobras na província do pré-sal, conforme ABIO Nº 640/2015. Os dados incluem aqueles coletados entre os anos de 2015 e 2022 e inclui 144 isolados bacterianos, dos quais 122 foram considerados válidos para o estudo. A análise de sensibilidade por disco difusão identificou a presença de diversas espécies bacterianas resistentes, sendo as mais abundantes Escherichia coli (23,77%), Klebsiella sp. (19,67%), Proteus sp. (18,03%) e Enterobacter sp. (7,37%). O estudo demonstra a presença de bactérias criticamente prioritárias em aves marinhas, confirmando seu papel como sentinelas dos impactos antropogênicos.