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Não é exagero dizer que a história da República no Brasil explicita uma democracia aos tropeços: de simulacro republicano à ditadura civil-militar, passando pelo Estado Novo, no século XX, chegamos ao bolsonarismo no atual. Movimento sustentado em uma figura abertamente antidemocrática, a vitória de seu líder em 2018 e a disputa acirrada pela presidência que pontificou em 2002, pontuam, junto com o que acontecera do século anterior, uma tendência de identificação com personalidades não apenas carismáticas, mas autoritárias. Os dias atuais apresentam, no entanto, um novo desafio a essa tendência, nos termos da atualização da indústria cultural: por meio das redes sociais, opera-se com novos instrumentos de mídia e comunicação que potencializam a rescisão do pensamento crítico e da reflexão nele implicada. Nesse contexto, a disputa pela hegemonia política se junta à disputa cultural, realizada com destaque no campo da educação. Evocando a ameaça contagiante de ideologias imorais e deturpadoras de valores familiares tradicionais, sob a rubrica do “marxismo cultural” e do ódio a figuras intelectuais de esquerda como Paulo Freire, o extremismo de direita coloca a escola como principal campo de batalha, o que corresponde ao crescimento de empresas de mídia reacionárias, como a Brasil Paralelo, inserida no sistema educacional em parte do território brasileiro. Em tempos de sequestro dos sentidos, da produção de compulsões e do preenchimento do tempo livre via hipertrofia do consumo midiático, a educação no Brasil precisa articular-se diretamente no embate contra a permanência fascista no tecido social. Nessa direção, o presente texto busca estruturar possíveis ideias como auxílio à constituição de uma psicologia crítica escolar que possa ajudar no enfrentamento ao ideário protofascista no ambiente escolar. Faz isso tomando em conta a atualidade do autoritarismo nacional e articulando textos e conceitos seminais da perspectiva educacional de Theodor W. Adorno, como a crítica à indústria cultural e os estudos sobre a personalidade autoritária. Busca, assim, um caminho para fortalecimento da reflexão crítica nas escolas. O escrito segue com o seguinte conteúdo: primeiro, apresenta aspectos da tradição frankfurtiana, revisando sua relação com uma psicologia escolar crítica; logo após, organiza conceitos de Adorno e Sigmund Freud, como identificação, formação, experiência e elaboração do passado, de modo a tecer uma relação possível com o contexto brasileiro atual e, finalmente, apresenta linhas para uma psicologia escolar crítica que se encarregue de desanuviar identificações com autoritarismos, fortalecer o pensamento crítico e apontando possibilidades de superação da precariedade cultural e subjetiva que facilita a incorporação das propagandas fascistas. |
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