A atuação da população escravizada e liberta nas redes informais de crédito: Ilha de Santa Catarina na segunda metade do século XIX

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A atuação da população escravizada e liberta nas redes informais de crédito: Ilha de Santa Catarina na segunda metade do século XIX

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Title: A atuação da população escravizada e liberta nas redes informais de crédito: Ilha de Santa Catarina na segunda metade do século XIX
Author: Lima, Tainara Teofilo
Abstract: Muitas são as coisas pelas quais um sujeito pode lutar. Coisas que o façam ter nesse mundo uma existência que não se limite ao simples ato de sobreviver. Trata-se da luta por uma vida que não se resuma a possuir o mero pão de cada dia e a cama para deitar os ossos à noite. Há mais coisas entre os Céus e a Terra do que isso. As decisões econômicas de uma pessoa são marcadas por esses anseios. Não era diferente no século XIX. Não era diferente entre os escravizados e libertos na periférica Desterro, atual Florianópolis. A presente pesquisa objetivou estudar as estratégias econômicas desses indivíduos na conquista de coisas que lhes fossem valiosas. Isto é, buscou estudar a atuação da população escravizada e liberta nas redes informais de crédito em Desterro na segunda metade do século XIX. Entre a documentação cartorial do 2º Ofício de Desterro, 128 procurações e 45 hipotecas foram lidas e transcritas, pois, nos dois tipos de ações, é possível encontrar redes de pessoas e circulação de crédito. Nessa investigação, a pesquisa deparou-se com uma dívida hipotecária paga com trabalho. À luz dessa questão, outras fontes foram cruzadas, como Escrituras de locação de serviço e Registros de Título de Liberdade. Percebeu-se, então, a relação entre crédito, trabalho e liberdade. Na prática, contratos de locação de serviço eram empréstimos, por meio dos quais escravizados galgavam as muralhas do cativeiro; empréstimos que, mais tarde, seriam pagos com trabalho, mais uma vez. Isso nos fez entender a liberdade enquanto um fenômeno financeiro, de modo que, para ser conquistada, esferas como as do crédito e do trabalho eram frequentemente acionadas — liberdades que, a depender do período e das conjunturas, jamais seriam alcançadas, senão pela atuação dos escravizados nas redes informais de crédito. Eram pessoas cujos olhos faiscantes brilhavam por melhores condições de vida. Suas histórias importam e expõem que a desigualdade social atual não foi algo inevitável; que segregações não são fatalidades. Muita discriminação e exploração foram necessárias para que hoje não tivéssemos uma vasta elite negra brasileira. Em uma sociedade democrática, se não for escancarado que tal segregação é construída historicamente, a democracia tende à superficialidade. Muitos cativos foram dados como garantias em hipotecas, mas essa opressão não foi sofrida de bom grado. Esses mesmos cativos adaptaram-se ao sistema, imprimindo-lhe suas próprias vontades, valendo-se daquele universo de possibilidades. Um banco de dados com as informações levantadas está em processo de desenvolvimento, pois são dados importantes, mas não compreendem o processo inteiro. As pessoas escravizadas foram mais do que números; foram mais do que força de trabalho; significavam mais do que garantias para senhores escravocratas. Eram pessoas. E esses indivíduos tinham nomes, tinham sonhos, tinham atuações. Essa pesquisa apenas arranha a superfície das miríades de empreendimentos travados por esses sujeitos.
Description: Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/259237
Date: 2024-09-08


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