Mudanças no uso do solo dentro da área adequada para a ocorrência do macaco-prego, Sapajus nigritus (Goldfuss, 1809) e sua interação com povoamentos florestais

Abstract

A madeira de espécies do gênero Pinus L. é amplamente utilizada em indústrias como laminação, serraria, papel e celulose, além de gerar produtos como resina, cuja demanda tem crescido tanto no Brasil quanto globalmente. No entanto, os plantios de pinus enfrentam problemas significativos devido aos danos causados pelo macaco-prego (Sapajus nigritus), uma situação que se intensificou a partir da década de 1990. A expansão das áreas plantadas coincide com a área de distribuição do macaco-prego, exacerbando o conflito entre as plantações e a fauna nativa. Nesse contexto, este estudo visou estimar as áreas adequadas para a ocorrência do macaco-prego utilizando modelos de nicho ecológico. Essa informação foi utilizada para estimar a área de pinus em risco de ataque pelo macaco-prego, bem como as mudanças no uso do solo nas áreas adequadas para a espécie. A área adequada foi estimada com o MaxEnt, um algoritmo de aprendizado de máquina amplamente utilizado em estudos ecológicos. Dados de uso e cobertura do solo foram obtidos da plataforma MapBiomas, e informações sobre os plantios de pinus da plataforma Global Forest Watch. Áreas altamente adequadas para o macaco-prego foram estimadas no sul e sudeste do Brasil, compreendendo 84,3% da área e 94,7% dos municípios produtores de pinus no Brasil. Nos últimos 37 anos, foi observado um crescimento na área destinada à silvicultura na área adequada para o macaco-prego, sendo a maioria dessas áreas resultante da conversão de florestas nativas e agricultura. Também foi observado um aumento no número de fragmentos de áreas nativas e de silvicultura e uma redução na área média dos fragmentos. O aumento no número de fragmentos foi de 12,7% na floresta nativa e 638,7% em florestas plantadas. Adicionalmente, foi observado um aumento na porcentagem da área de silvicultura em relação à área total. Os resultados do estudo indicam uma degradação das florestas nativas acompanhada por um aumento nas áreas produtoras de pinus. Esse fator ajuda a explicar o aumento registrado no ataque dos macacos-prego, uma vez que em condições de limitação de recursos na floresta nativa, eles buscam fontes de recurso em povoamentos florestais.