Efeitos da intervenção neuropsicomotora com dançaterapia no manejo do estresse e sua relação com os níveis de cortisol e do fator neurotrófico derivado do cérebro em adultos: um estudo clínico piloto randomizado

Abstract

A exposição prolongada a altos níveis de estresse tem sido relacionada à hipersecreção do glicocorticóide cortisol e a diminuição da disponibilidade de neurotrofinas que promovem a plasticidade sináptica, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), decorrentes da disfunção no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), o que pode favorer o desenvolvimento de doenças, notadamente na fase adulta, período em que as responsabilidades familiares e as pressões no trabalho tendem a acentuarem e a manifestação do estresse é potencialmente maior. Por outro lado, a intervenção com a dançaterapia, prática psicoterapêutica corporal que utiliza o movimento e a expressão artística, está relacionada a efeitos positivos no bem-estar psicológico global desta população. No entanto, os efeitos da dançaterapia no manejo do estresse e sua relação com as concentrações de cortisol e de BDNF em adultos permanece inexplorada. Objetivo: Avaliar os efeitos da dançaterapia no manejo do estresse e sua relação com as concentrações de cortisol e de BDNF em adultos. Métodos: O delineamento do protocolo de pesquisa é caracterizado como um ensaio clínico randomizado (ECR) em formato paralelo, realizado no Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no Centro de Desenvolvimento Neuropsicomotor Ana Malheiros, em Florianópolis/Santa Catarina. Um total de 38 (trinta e oito) participantes, de ambos os sexos, com classificação nos níveis de estresse acima do normal segundo os testes psicométricos DASS-21 (Escala de Depressão, Ansiedade, Estresse) e PSS-10 (Escala de Estresse Percebido), foram randomizadas em Grupo Dançaterapia (GD) (n=19), e Grupo Controle (GC) (n=19), com idades compreendidas entre 20 e 59 anos, composto por 84,21% de mulheres e 15,79% de homens. A coleta de dados foi realizada no período de triagem, antes do início das intervenções (t0) e pós-intervenções (t1), tendo como desfecho primário os sintomas de estresse (PSS-10) e como desfechos secundários os sintomas de ansiedade, depressão, as concentrações de cortisol, BDNF e colesterol. Os indivíduos do Grupo Dançaterapia (GD) participaram de duas sessões semanais (60 minutos cada) por um período de 4 semanas e o Grupo Controle (GC) foi convidado a manter suas atividades habituais durante o mesmo período. Resultados: A dançaterapia demonstrou reduzir significativamente os sintomas de estresse, depressão e ansiedade após 4 semanas de intervenção na análise intragrupo (p<0,0001**** na PSS-10; p=0,011* para subscala de estresse; p=0,001** para subscala de depressão e p=0,03 para subscala de ansiedade na DASS-21) e alterações significativas nos sintomas de estresse e depressão na análise intergrupo (p=0,0087* na PSS-10 e p=0,0008*** para subescala de depressão na DASS-21), entretanto não houveram alterações ou reduções significativas nas análises bioquímicas na avaliação intra e intergrupo. O GC não apresentou alterações significativas durante o período de estudo nas análises intra e intergrupo. Conclusão: Em conjunto, os resultados deste estudo fornecem evidências de que, além das melhorias relacionadas ao manejo do estresse, depressão e ansiedade, confirmadas por testes psicométricos, a dançaterapia mostra-se um recurso não-farmacológico promissor para prevenção de agravos à saúde mental e física decorrentes do estresse em adultos.

Abstract: Prolonged exposure to high levels of stress has been related to hypersecretion of the glucocorticoid cortisol and the decreased availability of neurotrophins that promote synaptic plasticity, such as brain-derived neurotrophic factor (BDNF), resulting from dysfunction in the hypothalamic-pituitary-adrenal (HPA) axis, which may favor the development of diseases, especially in adulthood, a period in which family responsibilities and pressures at work tend to accentuate and manifestation of stress is potentially greater. On the other hand, intervention with dance therapy, a body psychotherapeutic practice that uses movement and artistic expression, is related to positive effects on the overall psychological well-being of this population. However, the effects of dance therapy on stress management and its relationship with cortisol and BDNF concentrations in adults remains unexplored. Objective: To evaluate the effects of dance therapy on stress management and its relationship with cortisol and BDNF concentrations in adults. Methods: The research protocol design is characterized as a randomized clinical trial (RCT) in parallel format, carried out at the Center for Biological Sciences of the Federal University of Santa Catarina (UFSC) and at the Center for Neuropsychomotor Development Ana Malheiros, in Florianópolis/Santa Catarina. Total of 38 (thirty-eight) participants of both sexes, with stress levels above normal classification according to the psychometric tests DASS-21 (Depression, Anxiety, Stress Scale) and PSS-10 (Perceived Stress Scale), were randomized into Dance Therapy Group (DG) (n=19) and Control Group (CG) (n=19), aged between 20 and 59 years. composed of 84.21% women and 15.79% men. Data collection was performed during the screening period, before the beginning of the interventions (t0) and post-interventions (t1), with the primary outcome being symptoms of stress (PSS-10) and symptoms of anxiety, depression, cortisol, BDNF and cholesterol concentrations as secondary outcomes. The individuals of the Dance Therapy Group (DG) participated in two weekly sessions (60 minutes each) for a period of 4 weeks and the Control Group (CG) was invited to maintain their usual activities during the same period. Results: Dance therapy was shown to significantly reduce symptoms of stress, depression and anxiety after 4 weeks of intervention in intragroup analysis (p<0.0001**** in PSS-10; p=0.011* for stress subscale; p=0.001* * for depression subscale and p=0.03 for anxiety subscale in DASS-21) and significant changes in stress and depression symptoms in intergroup analysis (p=0.0087* in PSS-10 and p=0.0008*** for depression subscale in DASS-21), however there were no significant changes or reductions in biochemical analyzes in the intra- and intergroup assessment. The CG did not show significant changes during the study period in intra- and intergroup analyses. Conclusion: Taken together, the results of this study provide evidence that, in addition to the improvements related to the management of stress, depression and anxiety, confirmed by psychometrics, dance therapy proves to be a promising non-pharmacological resource for preventing mental health problems and resulting from stress in adults.