Efeitos comportamentais do refinamento ambiental e manejo não-aversivo em camundongos Swiss fêmeas submetidas ao estresse de contenção

Abstract

O estresse estimula o encéfalo a iniciar o enfrentamento e a adaptação de curto prazo gerando respostas para manter a homeostase. O estresse possui um efeito bifásico sobre as adaptações cerebrais (e.g. alteração em processos eletrofisiológicos e morfológicos de neurônios) que varia conforme a intensidade do estressor. Estudos com roedores tem mostrado que o estresse crônico pode levar ao comportamento tipo-depressivo e tipo-ansioso. Fatores envolvidos na criação ou manutenção de animais de laboratório, como as condições de alojamento e forma de manejo, podem levar a alterações comportamentais associadas ao estresse, porém são frequentemente ignorados. No presente trabalhou buscou-se avaliar o impacto do ambiente refinado (AR) e do manejo não-aversivo (MNA) por cupping, isoladamente ou em associação, no comportamento de camundongos Swiss fêmeas adultas submetidas ao estresse. O AR consistiu na adição de papel picado para ninho, um túnel de PVC e um túnel de papelão para abrigo; e o MNA, na captura do animal com as mãos do pesquisador em plataforma. Foram realizadas avaliações dos comportamentos relacionados à emocionalidade durante os procedimentos de troca de caixa e administração intraperitoneal (i.p.), e dos comportamentos tipo-depressivo e tipo-ansioso por meio do teste de suspensão pela cauda (TSC), teste de borrifagem de sacarose (TBS) e teste do campo aberto (TCA), após exposição ao estresse crônico por contenção (ECC, 2 horas/dia por 10 dias). Em nosso trabalho, foi observado que o MNA, mas não o AR, reduziu os comportamentos de emocionalidade (defecação e tentativas de fuga da mão do experimentador) dos animais durante as trocas de caixa. Entretanto, o AR e/ou MNA não foram capazes de promover alterações nos comportamentos de emocionalidade (defecação, micção, relutância e vocalização) durante a administração i.p. Nos testes comportamentais, animais submetidos ao ECC não apresentaram alterações em parâmetros associados ao comportamento tipo-depressivo no TSC e TBS. Ainda, nenhuma das intervenções promoveu alterações nos mesmos parâmetros. Em relação ao comportamento exploratório no TCA, o ECC e a associação AR+MNA promoveram efeito tipo-ansiolítico. No mesmo teste, ao avaliar o comportamento de autolimpeza não-induzida, o efeito tipo-ansiolítico foi promovido apenas pelo MNA. O conjunto de nossos resultados sugere que o ECC de 2 horas/dia por 10 dias não foi capaz de conferir um fenótipo tipo-depressivo e que a ausência de efeitos tipo-antidepressivo do AR/MNA e tipo-ansiolítico do AR nos testes comportamentais, bem como o efeito tipo-ansiolítico promovido pelo ECC no TCA podem estar relacionados à habituação dos animais ao estresse utilizado em nosso trabalho.

Abstract: Stress stimulates the brain to initiate short-term coping and adaptation, generating responses to maintain homeostasis. Stress has a biphasic effect on physical adaptations (for example, changes in electrophysiological and morphological processes of neurons) that varies depending on the intensity of the stressor. In studies with rodents, it has been shown that stressful stress can lead to depressive-like and anxiety-like behavior. Factors involved in the husbandry or maintenance of laboratory animals, such as housing conditions and handling, may lead to behavioral changes associated with stress, but are often ignored. In the present work we sought to evaluate the impact of the refined environment (RE) and non-aversive handling (NAH) by cupping, alone or in combination, on the behavior of adult female Swiss mice subjected to stress. The RE consisted of adding shredded paper for nesting, one PVC tunnel and one cardboard tunnel for shelter; and the NAH corresponded to capturing the animal with the researcher's hands as in a platform position. Assessments of behaviors related to emotionality were carried out during the cage cleaning and intraperitoneal (i.p.) administration procedures, and of depressive-like and anxious-like behaviors through the tail suspension test (TST), splash test (ST) and open field test (OFT), after exposure to chronic restraint stress (CRS; 2 hours/day for 10 days). In our work, we found that NAH, but not RE, prevents animals' emotionality behaviors (defecation and attempts to escape from the experimenter?s hands) during cage cleaning. However, RE and/or NAH were not able to promote changes in emotionality behaviors (defecation, urination, reluctance and vocalization) during i.p. administration. In behavioral tests, animals subjected to CRS did not show changes in parameters associated with depressive-like behavior in the TST and ST. Moreover, none of the interventions elicited changes in the same parameters. When evaluating exploratory behavior in the OFT, CRS and the ER+NAH association promoted an anxiolytic-like effect. In the same test, when evaluating non-induced self-grooming behavior, the anxiolytic-like effect was promoted only by NAH. The set of our results suggests that CRS 2 hours/day for 10 days did not elicit a depressive-like phenotype and that the absence of antidepressive-like effects of RE/NAH and anxiolytic-like effects of RE in behavioral tests, as well as the anxiolytic-like effect promoted by CRS in OFT may be related to the animals' habituation to the stress employed in our work.