Violência política de gênero: a gestão de Maria Luíza em Fortaleza-CE (1985-1988)

Abstract

A pesquisa, ora apresentada, buscou compreender a violência política de gênero, durante a gestão de Maria Luíza Fontenele à frente da Prefeitura de Fortaleza, no período de redemocratização brasileira, entre os anos de 1985 e 1988. Maria Luíza foi a primeira prefeita eleita, em Fortaleza, pelo Partido dos Trabalhadores, que havia sido criado há poucos anos, e sua vitória representou uma surpresa para os adversários políticos e para a imprensa, visto que a candidata disputou com políticos reconhecidos e com forte apoio partidário. Mesmo com esses obstáculos, Maria tornou-se prefeita. A chegada dela ao Paço Municipal e a trajetória, durante sua gestão, foram analisadas, tendo em vista a compreensão de que o fenômeno da violência política de gênero não é algo recente, apesar de a categoria ter sido formulada na década de 1990. A investigação consistiu em perceber elementos que são considerados expressões de violência política de gênero: simbólica, semiótica, psicológica, moral e outras. Baseada nas fontes de pesquisa, que se formaram a partir de periódicos, entre elas - O Povo, Diário do Nordeste, Jornal do Brasil e revista Veja, fontes orais, com a realização de duas entrevistas, feitas com Maria Luíza, e materiais de campanha/propaganda eleitoral do período, como panfletos e discursos - foram analisadas, com rigor teórico-metodológico, as características que permitiram identificar a violência em diferentes situações de campanha e gestão da chefe do Poder Executivo. Assim, buscou-se dialogar com a historicidade da categoria e com os efeitos dela nas gestões de mulheres, levando-se em consideração os avanços das legislações dos últimos anos, a promoção de discussões sobre o tema e a repercussão da violência para as democracias. Observou-se que a gestão de Maria Luíza foi marcada por críticas, que tiveram o gênero como um elemento central de debate, apesar de não ser exclusivo. Nesse sentido, a Administração Popular de Fortaleza foi marcada por desafios econômicos, políticos, partidários, questões de gênero e violência, os quais integraram o cenário da gestão.

Abstract: The research presented here sought to understand political gender violence during Maria Luíza Fontenele's time as mayor of Fortaleza, during the period of Brazilian re-democratization, between 1985 and 1988. Maria Luíza was the first female mayor elected in Fortaleza by the Workers' Party, which had only been created a few years earlier, and her victory came as a surprise to her political opponents and the press, given that she was running against well-known politicians with strong party support. Despite these obstacles, Maria became mayor. Her arrival at the Municipal Palace and her career during her term were analyzed with a view to understanding that the phenomenon of gender-based political violence is not something recent, although the category was formulated in the 1990s.The investigation consisted of identifying elements that are considered expressions of political gender violence: symbolic, semiotic, psychological, moral and others. Based on the research sources, which were formed from periodicals, including O Povo, Diário do Nordeste, Jornal do Brasil and Revista Veja, oral sources, with two interviews with Maria Luíza, and campaign/election propaganda materials from the period, such as pamphlets and speeches - the characteristics that allowed violence to be identified in different situations of the campaign and management of the head of the Executive Branch were analyzed with theoretical-methodological rigor. In this way, we sought to engage in a dialogue with the historicity of the category and its effects on women's administrations, taking into account the advances in legislation in recent years, the promotion of discussions on the subject and the repercussions of violence for democracies. It was observed that Maria Luíza's administration was marked by criticism, with gender as a central element of the debate, although not exclusively. In this sense, the People's Administration of Fortaleza was marked by economic, political and party challenges, gender issues and violence, all of which were part of the administration's scenario.