Medicalização e patologização na educação infantil: um estudo (auto)biográfico de Joaquim e suas implicações nos processos formativos

Abstract

Este estudo teve como objetivo compreender as implicações da medicalização e patologização no processo formativo de uma criança na Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa (auto)biográfica de abordagem qualitativa-quantitativa, realizada por meio do método progressivo/regressivo (Sartre, 2002). Este método nos permite compreender fenômenos relacionados à educação na infância tomando a criança em-situação, constituindo-se num contexto sócio-histórico em que os processos de medicalização da educação ganham forma. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os processos históricos e o panorama da medicalização no Brasil, sobre as políticas da Educação Infantil e o desenvolvimento infantil a partir das obras Vigotski, em diálogo com a sociologia de Bernard Charlot. Com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer nº 5.556.390), realizou-se um levantamento sobre os processos de (não)medicalização do Departamento de Educação Infantil da Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma. Como proposta (auto)biográfica, foi realizada a seleção de uma criança que vivenciava processos de medicalização no contexto escolar. Para coleta e construção do material empírico recorreu-se a entrevistas semiestruturadas e observação. Essa pesquisa nos permitiu compreender que os processos de medicalização na educação, os quais estão ligados à influência de um saber médico-higienista que se perpetua na sociedade há séculos, manifestam-se também na esfera da Educação Infantil, afetando práticas pedagógicas das professoras e, consequentemente, exercendo um impacto significativo no processo formativo das crianças. Joaquim, a criança protagonista desta pesquisa, depois de enfrentar complicações de saúde respiratória e adenoide, que geraram consequências no desenvolvimento da fala e comportamento irritadiço, vivencia os impactos da medicalização e patologização. Professoras o reconhecem como uma criança agitada e que não participa das atividades pedagógicas. Diante disso, as implicações no processo formativo (totalizações em curso) envolvem desde questões psíquicas no processo de formação do seu saber-de-ser, nas relações interpessoais e afetivas, enquanto ser social que aprende a cuidar de si e dos outros, até aspectos da aprendizagem, por não ser incluso nas atividades e, assim, não estabelecer uma relação agradável com o saber escolar. Para propostas de superação, considera-se importante haver formações pedagógicas que promovam reflexões críticas a respeito dos processos de (não) medicalização e sua interferência no desenvolvimento e aprendizagem das crianças, considerando a necessidade de ampliar recursos humanos e pedagógicos, além de condições favoráveis para realização do trabalho docente.

Abstract: This study aimed to understand the implications of medicalization and pathologization in the formative process of a child in early childhood education. This is an (auto)biographical research with a qualitative-quantitative approach, carried out using the progressive/regressive method (Sartre, 2002). This method allows us to understand phenomena related to childhood education, taking the child in-situation, constituting a socio-historical context in which the processes of medicalization of education take shape. A bibliographical review was carried out on the historical processes and panorama of medicalization in Brazil; policies of early childhood education and child development based on the works of Vygotsky in dialogue with the sociology of Bernard Charlot. With the approval of the Ethics and Research Committee under opinion no. 5,556. 390, a survey was carried out on the (non)medicalization processes of the Department of Early Childhood Education of the Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma. As an (auto)biographical proposal, a child who experienced medicalization processes in the school context was selected. To collect and construct empirical material, semi-structured interviews and observation were used. This research allowed us to understand that the processes of medicalization in education, which are linked to the influence of medical-hygienist knowledge that has perpetuated in society for centuries, also manifest themselves in the sphere of early childhood education, affecting teachers' pedagogical practices and, consequently, exerting a significant impact on children?s formative process. Joaquim, the child protagonist of this research, after facing health, respiratory and adenoid complications, generating consequences for the development of speech and irritable behavior, experiences the impacts of medicalization and pathologization. Teachers recognize him as an agitated child who does not participate in educational activities. In view of this, the implications in the formative process (ongoing totalizations) involve everything from psychic issues in the process of forming one's knowledge of being, interpersonal and affective relationships, as a social being that learns to take care of oneself and others, as in aspects of learning by not being included in the activities and, therefore, not establishing a pleasant relationship with school knowledge. For overcoming proposals, it is considered important to have pedagogical training that promotes critical reflections regarding the processes of (non)medicalization and its interference in children's development and learning, considering the need to expand human and pedagogical resources, as well as favorable conditions for carrying out teaching work.