Abstract:
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Introdução: A pandemia de COVID-19 trouxe desafios significativos à saúde pública, impactando drasticamente os serviços de saúde, incluindo os procedimentos neurocirúrgicos. O Hospital Regional de São José (HRSJ), em Santa Catarina, também enfrentou mudanças na admissão e no manejo de pacientes neurocirúrgicos durante esse período. Estudar o impacto da pandemia nesses serviços é fundamental para entender e mitigar os efeitos de crises futuras na prestação de cuidados de saúde.
Objetivo: O estudo teve como objetivo principal avaliar o perfil epidemiológico e o impacto da pandemia de COVID-19 nos pacientes admitidos para neurocirurgia no HRSJ, além de fornecer dados para ajudar no planejamento de recursos e estrutura para futuros momentos críticos.
Métodos: Este estudo observacional, descritivo, transversal e retrospectivo analisou os impactos da pandemia de COVID-19 no perfil epidemiológico e clínico dos pacientes admitidos para neurocirurgia no HRSJ, entre março de 2018 e dezembro de 2021. A população do estudo incluiu 1.215 pacientes, dos quais 1.117 foram elegíveis após a aplicação de critérios de inclusão e exclusão. Foram coletados dados demográficos, data de admissão e alta hospitalar, etiologia do trauma e procedimentos realizados, categorizados em seis grupos principais: Trauma Cranioencefálico (TCE), Hidrodinâmica Cerebral, Neuro-Oncologia, Coluna/Dor, Complicações e Procedimentos Diversos.
Resultados: Entre março de 2018 e dezembro de 2021, foram realizados 1.215 procedimentos neurocirúrgicos no HRSJ, com 1.117 incluídos no estudo. Destes, 670 (60,13%) foram procedimentos de urgência/emergência e 444 (39,87%) eletivos. A pandemia não alterou significativamente o perfil epidemiológico dos pacientes, com predominância do sexo masculino (58%) e da faixa etária de 41-60 anos (36,6%) em ambos os períodos. Durante a pandemia, houve uma redução de 14,93% no número total de procedimentos, com maior impacto nas cirurgias eletivas (redução de 23,41%) em comparação às de urgência/emergência (redução de 8,83%).
O grupo TCE foi o mais prevalente, com 57,3% dos casos, e apresentou uma redução de 9,4% nos procedimentos durante a pandemia. Já a Hidrodinâmica Cerebral, com 20,0% dos procedimentos, registrou uma redução média de 11%. A Neuro-Oncologia, com 11,7% dos casos, sofreu uma redução de 24,5% nos procedimentos, com destaque para a microcirurgia para tumor intracraniano e craniectomia por tumor ósseo, que registraram quedas de 19,4% e 22,6%, respectivamente.
Discussão: Os resultados indicam que, embora o perfil epidemiológico dos pacientes neurocirúrgicos tenha permanecido estável durante a pandemia, houve uma redução significativa no número total de procedimentos, com maior impacto nas cirurgias eletivas. Estudos anteriores corroboram esses achados, destacando que homens de meia-idade são mais suscetíveis a condições como TCE e doenças neurodegenerativas, fatores ocupacionais e comportamentais que aumentam a exposição a traumas. A pandemia afetou a redistribuição de recursos e alterou protocolos hospitalares, priorizando casos urgentes e impactando as cirurgias eletivas.
A análise da distribuição dos pacientes neurocirúrgicos revela mudanças nos padrões de tratamento e prioridades clínicas durante a pandemia. A TCE permaneceu como a condição mais prevalente, embora estudos indiquem uma redução na incidência de novos casos devido às restrições de mobilidade durante o lockdown. As cirurgias eletivas, particularmente as oncológicas, foram significativamente afetadas, destacando a necessidade de estratégias adaptativas para garantir a continuidade do atendimento em crises futuras.
Conclusão: O estudo conclui que, apesar da estabilidade no perfil epidemiológico dos pacientes, a pandemia resultou em uma redução significativa no número de procedimentos neurocirúrgicos, principalmente nas cirurgias eletivas. Isso ressalta a necessidade de desenvolver estratégias que assegurem a continuidade do atendimento neurocirúrgico durante crises sanitárias futuras. |