Percepção dos professores de ciências sobre escola do campo, formação continuada e agrotóxicos: contribuições para a Educação do Campo

Abstract

Este trabalho propõe evidenciar a importância da formação continuada dos educadores das escolas do campo para desenvolver atividades pedagógicas sobre a realidade dos sujeitos que vivem sob risco de exposição aos agrotóxicos, como uma estratégia de prevenção da intoxicação exógena, de transformação da realidade e de promoção da qualidade de vida. Foram realizadas entrevistas com professores de Ciências da Natureza dos anos finais do ensino fundamental, em três escolas públicas do Estado de Santa Catarina, situadas próximas de áreas de cultivo com uso de agrotóxicos agrícolas, para investigar se eles realizaram formação continuada sobre agrotóxico e se esse tema é discutido na escola. Foi realizada a análise dos PPPs para compreender o contexto escolar e pesquisa bibliográfica utilizando a base de dados para artigos científicos para revisão do surgimento das escolas do campo no Brasil. As escolas do campo surgiram a partir de um movimento social em prol de políticas públicas de educação no campo e de um projeto de qualidade de vida no campo. A menção à educação do campo na LDB de 1996 colaborou para formulações de políticas públicas, incluindo as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo. As escolas do campo se organizam em turmas multisseriadas, pedagogia da alternância e calendário escolar específico para as atividades do campo. No entanto, ainda hoje, muitas escolas do campo apresentam um currículo que em nada se parece com os princípios e objetivos da Educação do Campo. A exposição aos agrotóxicos no campo é uma realidade devido à prevalência da agricultura convencional e, por consequência, afeta a qualidade de vida das populações, constituindo um problema de saúde pública. Os professores das escolas mostraram conhecer as especificidades das escolas do campo, porém, sem aprofundamento sobre o contexto histórico e as legislações pertinentes. Eles conhecem os perigos que os agrotóxicos podem causar à saúde e ao meio ambiente e consideram importante trabalhar o tema na escola para prevenção das populações, no entanto, o tema não faz parte do currículo da maioria dessas escolas. Não é possível relacionar o uso de agrotóxicos com as dificuldades escolares dos estudantes, apesar dos casos de adoentados na comunidade devido à exposição aos agrotóxicos. Os professores têm interesse em aprender mais sobre o assunto, porém, segundo eles, os temas escolhidos pelo Estado para as formações continuadas envolvem assuntos burocráticos, temas gerais sobre educação e palestras motivacionais, sem levar em conta as especificidades dos territórios. Diante do exposto, destacamos a importância deste tema nos currículos escolares e nas formações continuadas dos professores das escolas do campo e indicamos a mobilização de órgãos competentes e instituições de ensino para a organização dessas formações, promovendo o conhecimento e dando subsídios para os professores trabalharem esta questão de forma interdisciplinar e contextualizada. Esperamos que esse trabalho colabore para a ampliação das discussões sobre a exposição aos agrotóxicos entre a comunidade escolar e nos meios educativos.

This study proposes to highlight the importance of continuing education of educators in rural schools to develop pedagogical activities on the reality of subjects who live at risk of exposure to pesticides, as a strategy for preventing exogenous intoxication, transforming reality and promoting quality of life. Interviews were carried out with Natural Science teachers in the final years of elementary school, in three public schools in the State of Santa Catarina, located close to cultivation areas with the use of agricultural pesticides, to investigate whether they had continued education on pesticides and whether this topic is discussed at school. Pedagogical Political Project were analyzed to understand the school context and bibliographical research was carried out using the database for open access scientific articles to review the emergence of rural schools in Brazil. Rural schools emerged from a social movement in favor of public education policies in the countryside and, later, from a project for quality of life in the countryside. The mention of field education in the 1996 legislation (LDB) contributed to the formulation of public policies, including the Operational Guidelines for Basic Education in Rural Schools. Rural schools are organized into multigrade classes, alternating pedagogy and a specific school calendar for rural activities. However, even today, many rural schools present a curriculum that in no way resembles the principles and objectives of Rural Education. Exposure to pesticides in the countryside is a reality due to the prevalence of conventional agriculture and, consequently, affects the quality of life of populations, constituting a public health problem. The teachers at the schools surveyed showed knowledge of the specificities of rural schools, however, without going into depth about the historical context and relevant legislation. They know the dangers that pesticides can cause to health and the environment and consider it important to work on the topic at school to prevent populations, however, the topic is not part of the curriculum in most of these schools. It is not possible to relate the use of pesticides to students' academic difficulties, despite cases of people falling ill in the community due to exposure to pesticides. Teachers are interested in learning more about the subject, however, according to them, the topics chosen by the State for continued training involve bureaucratic issues, general topics about education and motivational talks, without taking into account the specificities of the territories. In view of the above, we highlight the importance of this topic in school curricula and in the continuing education of teachers in rural schools and we recommend the mobilization of competent bodies and educational institutions to organize these trainings, promoting knowledge and providing support for teachers to work on this question in an interdisciplinary and contextualized way. We hope that this work will contribute to expanding discussions about exposure to pesticides among the school community and in educational environments.