Tempo de recuperação do coma induzido pelo frio (CCRT) como parâmetro para quantificar a tolerância do mosquito Aedes aegypti ao Zika virus

Abstract

Os insetos vetores são tolerantes a infecções por arbovírus. A tolerância é uma estratégia de defesa conservada evolutivamente desde plantas até insetos e humanos que não visa a eliminação do patógeno, mas sim regular os efeitos deletérios metabólicos e teciduais causados por eles. O mosquito vetor Aedes aegypti, responsável por transmitir arbovírus, causando epidemias sazonais, tem grande impacto na saúde pública brasileira. No atual cenário de mudanças climáticas, esse mosquito vem se alastrando para áreas fora das zonas epidemiológicas tradicionais, em razão de vários fatores, dentre eles a aclimatação ao frio. Buscando auxiliar no combate às epidemias e compreender a relação do mosquito com os arbovírus, é fundamental dissecar as bases fisiológicas da resposta de tolerância à doença do vetor, analisando parâmetros relacionados à fisiologia do inseto durante a infecção. Na falta de métricas bem estabelecidas e considerando o impacto das mudanças climáticas na epidemiologia das arboviroses, analisamos neste trabalho se a tolerância térmica de fêmeas de Aedes aegypti é afetada pela infecção por Zika virus, a partir do Tempo de Recuperação do Coma Induzido pelo Frio (CCRT). As infecções por Zika virus (ZIKV) foram realizadas de forma sistêmica, pelos métodos de micro-injeção e pricking. Nossos resultados demonstram que a alimentação com sangue e a infecção pelo ZIKV reduzem o CCRT, sugerindo que o estresse fisiológico causado pela alimentação com sangue somado à infecção sistêmica por ZIKV impactam na fisiologia do mosquito com relação à sua tolerância ao frio .