Impacto das epidemias Influenza A e COVID-19 na morbimortalidade por doenças respiratórias agudas na população pediátrica brasileira entre 2009 e 2021: estudo ecológico

Abstract

O vírus Influenza A(H1N1)pdm09 e o SARS-CoV-2 têm potencial pandêmico e a maioria dos pacientes apresenta quadro típico de Síndrome Gripal. Embora as formas mais frequentes sejam leves ou assintomáticas, crianças e adolescentes podem manifestar formas graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Esta pesquisa tem como objetivo analisar a variação das taxas de casos notificados como SRAG, hospitalização e mortalidade por doenças respiratórias agudas em menores de 15 anos de idade no Brasil entre os anos de 2009 e 2021. Trata-se de um estudo ecológico de dados secundários utilizando como instrumentos as Fichas de Notificação de SRAG, as Autorizações de Internação Hospitalar, e Declarações de Óbito de indivíduos menores de 15 anos de idade residentes em território brasileiro entre 01 de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2021. Como resultado tivemos que as maiores taxas de casos notificados como SRAG, hospitalização e mortalidade por doenças respiratórias agudas ocorreram em menores de cinco anos de idade. Recém-nascidos notificados como SRAG morreram mais em anos pandêmicos; e em anos não pandêmicos, adolescentes. A taxa de casos notificados como SRAG apresentou-se elevada e em ascensão a partir de fevereiro de 2020, enquanto a letalidade permaneceu reduzida. A taxa de hospitalização por doenças respiratórias agudas reduziu em 72% em 2020 e 54% em 2021, comparado a 2009; contudo, a letalidade foi cerca de 50% maior. Os tipos de doenças respiratórias agudas mais letais entre hospitalizados foram Insuficiência Respiratória e SRAG; seguidos por Coronavírus em 2020. O domicílio foi o segundo local mais prevalente de ocorrência do óbito por doenças respiratórias agudas no período de estudo. O risco de hospitalização e mortalidade por doenças respiratórias agudas foi cerca de duas a três vezes maior em crianças e adolescentes indígenas comparados a brancos em 2020. Houve redução progressiva nas taxas de leitos de enfermaria pediátrica no período 2009 a 2021. Nos estados onde houve aumento na taxa de pediatras houve associação com a redução na taxa de mortalidade por doenças respiratórias agudas, durante o período não pandêmico, e nos anos de 2020 e 2021; e para maiores de um ano de idade, também houve redução na taxa de hospitalização no período não pandêmico e no ano de 2020. Em conclusão, durante a pandemia de COVID-19, ocorreu elevação contínua e ascendente da taxa de casos notificados como SRAG, não acompanhada pelo aumento da sua letalidade. A letalidade foi o dobro entre internados por doenças respiratórias agudas com metade da taxa de hospitalização comparado aos períodos iniciais do estudo. A assistência especializada no atendimento ao paciente pediátrico foi associada a redução na taxa de mortalidade e hospitalização por doenças respiratórias agudas.

Abstract: The Influenza A(H1N1)pdm09 virus and SARS-CoV-2 have pandemic potential and the majority of patients present a typical picture of Flu Syndrome. Although the most common forms are mild or asymptomatic, children and adolescents can present severe forms, such as Severe Acute Respiratory Syndrome (SARS). This research aims to analyze the variation in rates of reported cases such as SARS, hospitalization and mortality due to acute respiratory diseases in children under 15 years of age in Brazil between 2009 and 2021. This is an ecological study of secondary data using as instruments the SARS Notification Forms, Hospital Admission Authorizations, and Death Certificates of individuals under 15 years of age residing in Brazilian territory between January 1, 2009 and December 31, 2021. As a result, the highest rates of reported cases such as SARS, hospitalization and mortality from acute respiratory diseases occurred in children under five years of age. Newborns reported as SARS died more in pandemic years; and in non-pandemic years, teenagers. The incidence of cases reported as SARS was high and on the rise from February 2020, while lethality remained low. The hospitalization rate for acute respiratory diseases reduced by 72% in 2020 and 54% in 2021, compared to 2009; however, lethality was approximately 50% higher. The most lethal types of acute respiratory diseases among hospitalized patients were Respiratory Failure and SARS; followed by Coronavirus in 2020. Home was the second most prevalent place where deaths from acute respiratory diseases occurred during the study period. The risk of hospitalization and mortality from acute respiratory diseases was approximately two to three times higher in indigenous children and adolescents compared to whites in 2020. There was a progressive reduction in pediatric ward bed rates in the period from 2009 to 2021. In the states where there was an increase in the number of pediatricians was associated with a reduction in the mortality rate from acute respiratory diseases, during the non-pandemic period, and in the years 2020 and 2021; and for those over one year of age, there was also a reduction in the hospitalization rate in the non-pandemic period and in 2020. In conclusion, during the COVID-19 pandemic, there was a continuous and upward increase in the incidence rate of cases reported as SARS, not accompanied by an increase in its lethality. The mortality rate was double among those hospitalized for acute respiratory diseases with half the hospitalization rate compared to the initial periods of the study. Specialized assistance in caring for pediatric patients was associated with a reduction in the rate of mortality and hospitalization due to acute respiratory diseases.