Abstract:
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INTRODUÇÃO: A crescente prevalência do consumo de narguilé já ultrapassa o consumo de cigarros industrializados, principalmente entre adolescentes e universitários. A OMS ressalta os efeitos do narguilé sobre a saúde e destaca a necessidade de ampliar pesquisas e ações nesta área. Estudantes da área da saúde são modelos de comportamento e futuros atores no controle do tabagismo. No entanto, não existem dados detalhados a respeito do consumo de outros produtos do tabaco, como o narguilé, nessa população da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
OBJETIVO: Descrever o padrão, técnica de uso, percepção e grau de conhecimento sobre narguilé entre estudantes dos terceiros anos de cursos da área da saúde da UFSC. Adicionalmente, objetiva-se comparar os resultados obtidos no curso de medicina com outros cursos da área da saúde em conjunto.
MÉTODOS: Estudo transversal prospectivo, descritivo com auto-aplicação de questionário semi-estruturado em estudantes dos terceiros anos dos seguintes cursos da área da saúde da UFSC: Enfermagem, Farmácia, Odontologia e Medicina. Entre os meses de agosto de 2016 e março de 2017, todos os alunos, foram convidados a preencher um questionário sobre consumo do narguilé. Questões sobre características do uso, da técnica utilizada e conhecimento sobre o narguilé, além uma questão dissertativa registrando a opinião do entrevistado sobre o que pensa sobre o narguilé, foram respondidas pelos participantes.
RESULTADOS: Foram avaliados 267 estudantes (68,9% do sexo feminino), com média de idade de 22,7 ± 3,6 anos, distribuídos entre os cursos de enfermagem (n = 47), farmácia (n = 37), odontologia (n = 60) e medicina (n = 123). A experimentação de narguilé foi de 61.4% (n=164), maior na odontologia (73,3%). A média de idade de experimentação foi de 16,9 anos. O uso regular foi relatado em 51 participantes (19,1%), também foi maior na odontologia (25%). A experimentação e uso regular de cigarros convencionais foram de 46,8% e 5,2% respectivamente. A maioria dos 51 usuários regulares faz uso esporádico do narguilé (92,2%), nos finais de semana (52,9%) e sem preferência do período do dia (52,9%). Fumar com os amigos (94,1%) e locais como festas (49,0%) foram os mais citados para consumir narguilé. Mais de dois terços (68,7%) associou narguilé ao consumo de bebidas alcoólicas. Em relação à cessação do consumo de narguilé, 92,2% alega não ter interesse. As características da técnica de consumo foram: Quase metade (49%) dos 51 usuários regulares declarou nunca ter comprado fumo para narguilé, e 43,1% referiram nunca o ter preparado. Tabacaria foi o local mais citado para compra (41,1%). O bocal mais utilizado foi piteira compartilhada (84,3%). Carvão vegetal e de coco foram os combustíveis mais utilizados, respectivamente 41,2% e 35,3%. A grande maioria (92,1%) fuma narguilé com essências aromáticas. A duração da sessão de 1 a 2 horas foi a mais frequente (47,0%). A maioria (92,2%) alegou não ter interesse em cessar. Dentre os 267 entrevistados, 29,6% relataram ter recebido informações sobre narguilé durante o curso. A odontologia recebeu maior quantidade de informação (45%). Mais da metade (60,3%) afirma ser verdadeira a proibição da venda de narguilé para menores no Brasil. Um quarto (26,6%) acredita que a fumaça do narguilé é filtrada pela água. A grande maioria (98,5%) acredita que a fumaça do narguilé seja nociva à saúde. A opinião negativa sobre narguilé foi a mais expressiva, com 61,4%. Não houve diferença estatística entre a medicina e os demais cursos para os parâmetros avaliados, exceto em relação ao sexo dos participantes.
CONCLUSÕES: Apesar do conhecimento satisfatório, os estudantes receberam poucas informações sobre narguilé. A prevalência de experimentação e uso do narguilé é elevada entre universitários da área da saúde da UFSC, principalmente na odontologia. Os estudantes iniciam na adolescência e consomem o narguilé; esporadicamente, com essências, compartilha a mesma piteira, em longas sessões, acompanhado de amigos, em festas, associa ao consumo de álcool, e nega interesse em cessar. O curso de odontologia apresentou maiores taxas de experimentação e uso regular, apesar de ser o que mais recebeu informação sobre o narguilé. A maioria dos usuários regulares relaciona com doenças, tem opinião positiva e não desejam parar de fumar narguilé. Os resultados alertam para a necessidade de programas preventivos nesta população. |