Extremos, extremófilos e extraterrestres: fazendo vida na Terra e além num laboratório de Astrobiologia

Abstract

Esta investigação se desenha em torno de um campo científico emergente, a Astrobiologia, bem como das práticas e dos discursos dos e das cientistas que conduzem pesquisas astrobiológicas. O projeto parte de um estudo etnográfico conduzido no AstroLab, primeiro e único laboratório dedicado exclusivamente à Astrobiologia no Brasil e localizado na Universidade de São Paulo (USP), entre 2020 e 2023, com participação-observante conduzida tanto remota quanto presencialmente. Acompanho os e as astrobiólogas que atuam no AstroLab durante o desenvolvimento de suas pesquisas, no intuito de mapear os questionamentos levantados por eles e elas, bem como os recursos materiais e conceituais que mobilizam para respondê-los. Proponho que a Astrobiologia nutra um paradigma - no sentido kuhniano -, o qual embasa e embala as atividades desenvolvidas ao longo de suas malhas científicas, que podem ser lidas a partir dos enquadramentos propostos por Thomas Kuhn (1998) de ?ciência normal? e ?resolução de quebra-cabeças?. Embora não haja uma teoria unificadora em torno da vida, tampouco a detecção de vida extraterrestre como um fato sancionado, os e as astrobiólogas utilizam certos organismos e paisagens de nosso planeta para ensaiar a vida alhures, trabalhando ativamente para caracterizá-la como um fenômeno cósmico em vez de uma exclusividade terrestre.

This investigation is designed around an emerging scientific field, Astrobiology, as well as the practices and discourses of its practitioners, the astrobiologists. The project revolves around an ethnographic study conducted at the AstroLab, the first and so far only laboratory devoted exclusively to Astrobiology in Brazil and located at the University of São Paulo (USP), between 2020 and 2023, with participant-observation conducted both remotely and in person. I follow the scientists who work at the AstroLab during the development of their research, aiming to map the questions raised by them, as well as the material and conceptual resources they deploy to answer these questions. I propose that Astrobiology nurtures a paradigm - in the Kuhnian sense -, which grounds and supports the activities developed throughout its scientific networks, which can be read within the framework proposed by Thomas Kuhn (1998) of ?normal science? and ?puzzle solving.? Although there is no unifying theory about life, nor the detection of extraterrestrial life as a sanctioned fact, astrobiologists use an assortment of terrestrial organisms and landscapes to rehearse life elsewhere, actively working to characterize it as a cosmic phenomenon instead of something exclusive to Earth.