"Conhece-te a ti mesmo": classes e grupos subalternos no pensamento de Antonio Gramsci

Abstract

Gramsci foi um original e incansável militante político do século XX que, apesar da distância, guarda até os dias atuais uma contribuição significativa para o marxismo contemporâneo: compreendendo as novas determinações do capitalismo de seu tempo foi capaz de traduzi-las nas inúmeras páginas dos Cadernos do Cárcere, redigidos como forma de vencer as condições adversas da prisão fascista e resistir ao fenômeno do embrutecimento do cárcere. Desta mirada, a presente tese de doutorado aprofunda o pensamento de Antonio Gramsci como tema de pesquisa, estabelecendo como objeto de investigação o estudo da categoria classes e grupos subalternos nos Cadernos do Cárcere, com destaque para os Cadernos 3 e 25. As questões norteadoras que orientaram o estudo em tela foram: Considerando especialmente as mudanças ocorridas entre os Cadernos 3 e 25, como a categoria classes e grupos subalternos está conceituada na obra Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci? A partir destes Cadernos, qual é a relação que Gramsci estabelece com outros conceitos e Cadernos? Para tanto, como objetivo geral buscou-se investigar como a categoria classes e grupos subalternos está conceituada na obra Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci, tendo como referência os Cadernos 3 e 25, e como objetivos específicos: a) destacar a vinculação orgânica de Gramsci com o tema das classes e grupos subalternos, posteriormente desenvolvido nos Cadernos do Cárcere; b) identificar a presença e os verbetes utilizados por Gramsci para ser referir ao tema das classes e grupos subalternos nos Cadernos do Cárcere; c) estudar a relação entre os Cadernos 3 e 25, identificando as notas ou parágrafos reelaborados por Gramsci que versam sobre o tema das classes e grupos subalternos; d) especificar a relação das notas ou parágrafos dos Cadernos 3 e 25 com outros conceitos e temas presentes nos demais Cadernos, de modo a estabelecer conexões entre as classes e grupos subalternos e o conjunto geral dos Cadernos do Cárcere. Partindo de uma pesquisa bibliográfica, exploratória e de abordagem qualitativa, percorreu-se os Cadernos do Cárcere na edição crítica italiana e, complementarmente, na edição brasileira, para revelar como Gramsci foi desenvolvendo estes conceitos a partir do ritmo de sua escrita na prisão. Considera-se que as categorias classes e grupos subalternos só podem ser compreendidas na medida em que são postas em relação ao conjunto da obra carcerária, articulando-se com as demais desenvolvidas por Gramsci, especialmente aquelas trabalhadas monograficamente nos Cadernos 10, 11, 12, 13, 19 e 22 e traduzidas na filosofia da práxis, nos intelectuais, no Estado, na hegemonia e na revolução passiva. Neste envolver destes conceitos é que pôde-se concluir que as classes e grupos subalternos não são classes excluídas e passivas, uma vez que a subalternidade se constitui como um produto ativo da relação hegemônica que constitui o Estado moderno: é, portanto, produzida pelo projeto hegemônico burguês que tensiona as relações de força, contribuindo Gramsci nos Cadernos do Cárcere para desvelar seus fundamentos políticos, econômicos e sociais e como as classes e grupos subalternos podem colocar-se na direção de sua superação através da práxis política revolucionária.

Abstract: Gramsci was an original and tireless political activist of the 20th century who, despite his distance, maintains a significant contribution to contemporary Marxism to this day: understanding the new determinations of capitalism in his time, he was able to translate them into the countless pages of the Notebooks of the Prison, written as a way of overcoming the adverse conditions of the fascist prison and resisting the phenomenon of prison brutalization. From this perspective, this doctoral thesis deepens the thinking of Antonio Gramsci as a research topic, establishing as an object of investigation the study of the category of subaltern classes and groups in the Prison Notebooks, with emphasis on Notebooks 3 and 25. The guiding questions that guiding the study were: Considering especially the changes that occurred between Notebooks 3 and 25, how is the category of subaltern classes and groups conceptualized in the work Prison Notebooks by Antonio Gramsci? From these Notebooks, what is the relationship that Gramsci establishes with other concepts and Notebooks? To this end, as a general objective, we sought to investigate how the category of subaltern classes and groups is conceptualized in the work Prison Notebooks by Antonio Gramsci, taking Notebooks 3 and 25 as reference, and as specific objectives:: a) highlight Gramsci's organic link with the theme of subordinate classes and groups, later developed in Notebooks of the Prison; b) identify the presence and entries used by Gramsci to refer to the theme of subordinate classes and groups in the Prison Notebooks; c) study the relationship between Notebooks 3 and 25, identifying the notes or paragraphs reworked by Gramsci that deal with the theme of subordinate classes and groups; d) specify the relationship of the notes or paragraphs in Notebooks 3 and 25 with other concepts and themes present in the other Notebooks, in order to establish connections between the subordinate classes and groups and the general set of Prison Notebooks. Starting from a bibliographical, exploratory research with a qualitative approach, the Prison Notebooks were analyzed in the Italian critical edition and, in addition, in the Brazilian edition, to reveal how Gramsci developed these concepts based on the rhythm of his writing in prison. It is considered that the categories of subaltern classes and groups can only be understood to the extent that they are placed in relation to the entire prison work, articulating with the others developed by Gramsci, especially those worked on monographically in Notebooks 10, 11, 12 , 13, 19 and 22 and translated into the philosophy of praxis, intellectuals, the State, hegemony and passive revolution. In this involvement of these concepts, it was possible to conclude that subaltern classes and groups are not excluded and passive classes, since subalternity is constituted as an active product of the hegemonic relationship that constitutes the modern State: it is, therefore, produced by the project bourgeois hegemony that tensions power relations, Gramsci in the Prison Notebooks helping to unveil its political, economic and social foundations and how subaltern classes and groups can put themselves in the direction of overcoming them through revolutionary political praxis.