Capitalismo e trabalhadoras(es) imigrantes no agronegócio catarinense no século XXI

Abstract

Esta pesquisa investiga a complexa relação entre capitalismo racial e migração Sul-Sul, com foco nas experiências de trabalhadoras(es) migrantes no setor do agronegócio em Santa Catarina, particularmente no setor de frigoríficos. O estudo parte da premissa de que o capitalismo racial, historicamente, tem sido um fator estruturante na organização do trabalho e na distribuição das(os) trabalhadoras(es) migrantes racializadas(os), especialmente aquelas(es) provenientes da América Latina e da África. A pesquisa analisa como a racialização dessas(es) migrantes afeta suas trajetórias laborais, enfatizando a superexploração, precarização e a inclusão diferencial que se manifesta na segregação e na alocação dessas(es) trabalhadoras(es) nas atividades mais degradantes e desprovidas de proteção social. A metodologia utilizada combina uma análise crítica da literatura sobre capitalismo racial, migração e trabalho, com dados quali-quantativos obtidos por meio de formulários aplicados às trabalhadoras(es) migrantes no oeste de Santa Catarina. Esses formulários revelam como a lógica da inclusão diferencial, um mecanismo intrínseco ao capitalismo racial, opera ao alocar migrantes racializadas(os) em posições de maior vulnerabilidade no setor agroindustrial, nas quais são submetidas(os) a condições extenuantes de trabalho, baixos salários e pouca proteção social. O estudo também examina a financeirização do agronegócio como um fator que intensifica a superexploração das(os) trabalhadoras(es) migrantes, ao mesmo tempo em que aprofunda as barreiras institucionais que limitam o acesso dessas(es) migrantes aos direitos trabalhistas e à regularização documental. A pesquisa conclui que a racialização das(os) migrantes não brancas(os) serve como uma estratégia central de acumulação de capital, reforçada pela exclusão estrutural e pela hierarquia racial que permeia o setor agroindustrial catarinense.

Abstract: This research investigates the complex relationship between racial capitalism and South-South migration, focusing on the experiences of migrant workers in the agribusiness sector of Santa Catarina, particularly in the meat processing industry. The study starts from the premise that racial capitalism, historically, has been a structuring factor in the organization of labor and the distribution of racialized migrant workers, especially those from Latin American and African countries. The research analyzes how the racialization of these migrants affects their work trajectories, emphasizing super-exploitation, precarization, and differential inclusion that manifests in the segregation and allocation of these workers to the most degrading and socially unprotected labor activities. The methodology employed combines a critical analysis of the literature on racial capitalism, migration, and labor with quali-quantitative data obtained through questionnaires applied to migrant workers in western Santa Catarina. These questionnaires reveal how the logic of differential inclusion, an intrinsic mechanism of racial capitalism, functions to allocate racialized migrants to more vulnerable positions in the agribusiness sector, where they are subjected to exhausting working conditions, low wages, and minimal social protection. The study also addresses the financialization of agribusiness as a factor that intensifies the super-exploitation of migrant workers while deepening institutional barriers that limit these migrants' access to labor rights and proper documentation. The research concludes that the racialization of non-white migrants serves as a central strategy for capital accumulation, reinforced by structural exclusion and the racial hierarchy that permeates the agribusiness sector in Santa Catarina.