Cartas terapêuticas: intervenção de enfermagem ao cuidador familiar em cuidados paliativos à luz da teoria da tristeza crônica

Abstract

Introdução: em Cuidados Paliativos muitos familiares assumem a responsabilidade do cuidado de forma intuitiva, e nem sempre estão preparados para enfrentar os desafios para lidar com os aspectos de saúde do familiar adoecido, enfrentando uma carga expressiva e, frequentemente excessiva podendo resultar em prejuízos de ordem física, psíquica e social decorrentes das perdas reais ou imaginárias. Neste contexto muitos vivenciam sentimentos de tristeza, depressão e ansiedade. A Teoria da Tristeza Crônica possui um instrumento de avaliação do risco de tristeza crônica e propõe estratégias de enfrentamento eficazes para lidar com as situações de perdas decorrentes de uma doença que ameaça a continuidade da vida, tanto para o paciente quanto para sua família, subsidiando o enfermeiro para o planejamento da assistência. Objetivos: avaliar o risco de tristeza crônica dos cuidadores familiares de pacientes em Cuidados Paliativos; construir cartas terapêuticas à luz da Teoria da Tristeza Crônica, aplicar e avaliar suas contribuições na percepção do cuidador familiar de paciente em Cuidados Paliativos. Método: estudo quase experimental realizado na unidade oncológica do Hospital Municipal São José, Joinville (Santa Catarina/Brasil), entre setembro a outubro de 2023, com amostra não probabilística definida por conveniência, incluindo dez cuidadores familiares de pacientes. Sustentado teoricamente pela Teoria da Tristeza Crônica e pelos princípios dos Cuidados Paliativos. Apreciação ética sob número 6.253.899. Para coleta de dados aplicou-se o instrumento Chronic Sorrow Assessment Tool (versão em português brasileiro), entrevista semiestruturada antes e após a intervenção, construção e aplicação da carta terapêutica. A construção das cartas seguiu a metodologia proposta pela Enfermeira Nancy Moules. A primeira entrevista permitiu a construção das cartas e a segunda a avaliação dos efeitos da intervenção na percepção dos participantes. As entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo. Resultados: os cuidadores familiares alcançaram escores entre 94 e 128 pontos (risco elevado para a tristeza crônica). Da avaliação do risco para tristeza crônica construiu-se um manuscrito. Da primeira entrevista emergiram as categorias temáticas: Mudanças na rotina para assumir o papel de cuidador, Sentimentos no cenário de sofrimento, Pontos de partida para a tristeza, Estratégias para mitigar o sofrimento e Enfermagem na visão do cuidador. Da segunda entrevista emergiram as categorias temáticas: Identificando a carta terapêutica como estratégia externa de enfrentamento da tristeza crônica, Valorizando o papel de cuidador familiar e Expressão de emoções e conflitos familiares. Constatou-se que a carta terapêutica como intervenção de enfermagem é aplicável ao cuidador familiar e apresenta efeitos positivos no contexto dos Cuidados Paliativos e, identificou-se a necessidade de construção de um folder incluindo roteiro para sua construção e aplicabilidade pelos enfermeiros. Produto: carta terapêutica à luz da Teoria de Enfermagem da Tristeza Crônica aos cuidadores familiares em Cuidados Paliativos como intervenção de enfermagem; folder intitulado Cartas terapêuticas para o cuidador familiar do paciente em Cuidados Paliativos: um guia para o profissional enfermeiro. Contribuições finais: o estudo da tristeza crônica e o uso de cartas terapêuticas enriquecem o cuidado de enfermagem, proporcionando uma abordagem personalizada, intervenções mais eficazes e compassivas, além de melhorar a experiência do cuidador.

Abstract: Introduction: in Palliative Care, many family members assume responsibility for care in an intuitive way, and are not always prepared to face the challenges of dealing with the health aspects of the sick family member, facing an expressive and often excessive burden that can result in physical, psychological and social damage due to real or imagined losses. In this context, many people experience feelings of sadness, depression and anxiety. The Theory of Chronic Sorrow has a tool for assessing the risk of chronic sorrow and proposes effective coping strategies for dealing with situations of loss resulting from an illness that threatens the continuity of life, both for the patient and their family, providing support for nurses when planning care. Objectives: to assess the risk of chronic sorrow among family caregivers of patients in Palliative Care; to construct therapeutic letters in the light of the Theory of Chronic Sorrow; to apply and evaluate the contributions in the perception of the family caregiver of patients in Palliative Care. Method: quasi-experimental study carried out in the oncology unit of the São José Municipal Hospital, Joinville (Santa Catarina/Brazil), between september and october, 2023, with a non-probabilistic sample, defined by convenience, including ten family caregivers of patients in Palliative Care. The research protocol was approved by the Research Ethics Committee under number 6.253.899. Data was collected using the Chronic Sorrow Assessment Tool (Brazilian Portuguese version), a semi-structured interview before and after construction and application of the therapeutic letter intervention, offered to caregivers. The first interview allowed the letters to be constructed and the second to assess the effects of the intervention on the participants' perceptions. The interviews were subjected to content analysis and supported by the Theory of Chronic Sadness and the principles of Palliative Care. The construction of the letters followed the methodology proposed by Nurse Nancy Moules. Results: the family caregivers achieved scores between 94 and 128 points (high risk for chronic sorrow). The following thematic categories emerged from the first interview: Changes in routine to take on the role of caregiver, Feelings in the scenario of suffering, Starting points for sadness, Strategies to mitigate suffering and Nursing from the caregiver's point of view. From the second interview, which assessed the impact of the therapeutic letters on the participants' perceptions, the following thematic categories emerged: Identifying the therapeutic letter as an external strategy for coping with chronic sorrow, Valuing the role of family caregiver and Expressing emotions and family conflicts. From this analysis, it was clear that the therapeutic letter as a nursing intervention is applicable to family caregivers and has positive effects in the context of Palliative Care. Product: a therapeutic letter based on the Nursing Theory of Chronic Sorrow for family caregivers in palliative care as a nursing intervention. The folder Therapeutic letters for the family caregiver of a patient in Palliative Care: a guide for professional nurses was produced as a guide for preparing the letters for the nurses. Final contributions: the study of chronic sorrow and the use of therapeutic letters enrich nursing care by providing a personalized approach to care, more effective and compassionate interventions, as well as improving the caregiver's experience.