Amizade e crítica: o liberalismo e o horizonte intelectual straussiano

Abstract

Esta tese investiga a crítica de Leo Strauss à modernidade e ao regime liberal democrático e explora seu legado intelectual no pensamento político contemporâneo. Strauss foi um dos mais importantes pensadores políticos do século XX e notamos que, no Brasil e no mundo, a relevância de suas ideias ganha crescente reconhecimento. Profundamente envolvido com a filosofia política clássica, medieval e moderna, Strauss elabora uma crítica sofisticada ao regime democrático liberal. O problema central desta pesquisa é entender como Strauss e seus discípulos interpretam, articulam, avaliam e diagnosticam o problema da democracia liberal. Há um intenso debate acadêmico, marcado por interpretações divergentes ao redor da questão: Strauss era um crítico antimoderno e antiliberal ou um amigo sincero e defensor sutil do regime liberal democrático? Pretende-se demonstrar que a resposta a essa questão é complexa e precisa levar em conta a trajetória intelectual do pensador político alemão. Para sustentar a tese, o estudo subdivide-se em cinco objetivos específicos. O primeiro examina o contexto intelectual e político que moldou o jovem Strauss, incluindo sua inserção no sionismo político e no niilismo alemão. O segundo capítulo foca na leitura de Strauss sobre as origens do liberalismo, analisando o pensamento de Maquiavel, Hobbes e Locke. O terceiro capítulo explora a crise da modernidade e a erosão dos fundamentos teóricos do liberalismo, analisando o confronto de Strauss com Rousseau e Nietzsche. O quarto capítulo investiga o retorno de Strauss ao racionalismo clássico e como isso influencia sua posição em relação à democracia liberal moderna. Finalmente, o quinto ponto aborda o legado intelectual de Strauss, examinando como suas ideias foram reinterpretadas pelas escolas straussianas na Europa e na América. Metodologicamente, a tese combina análises sincrônicas e diacrônicas para capturar a evolução do pensamento de Strauss, mostrando como ele passa por uma inflexão substancial entre o período de juventude e a fase madura. A pesquisa identifica uma mudança significativa em Strauss, que, inicialmente cético e crítico severo da modernidade, gradualmente se torna mais conciliatório e até mesmo um \"amigo crítico\" da democracia liberal, reconhecendo suas imperfeições, mas também sua superioridade em relação a outras formas de governo modernas. A conclusão, portanto, destoa tanto dos críticos ferrenhos que o veem como um antiliberal, quanto dos leitores favoráveis que ignoram que Strauss passou por um período fortemente antiliberal, na juventude. A tese reforça, ao cabo, que Strauss evolui para uma posição que reconhece a democracia liberal como a melhor alternativa prática disponível e destaca a influência significativa do filósofo no pensamento político contemporâneo, sublinhando a importância de seu método de leitura esotérica e sua crítica aos princípios filosóficos e morais modernos. Além disso, identifica diferentes tendências dentro do straussianismo: uma mais crítica ao liberalismo, a partir de uma perspectiva tocquevilliana, e outra, americanista, que defende apaixonadamente os princípios fundacionais dos Estados Unidos. Por fim, ao fortalecer os estudos straussianos no Brasil, este trabalho visa consolidar um campo de pesquisa emergente que tem se expandido significativamente, promovendo um diálogo contínuo sobre o futuro da democracia liberal.

Abstract: This thesis investigates Leo Strauss?s critique of modernity and the liberal democratic regime and explores his intellectual legacy in contemporary political thought. Strauss was one of the most important political thinkers of the 20th century, and we note that, both in Brazil and worldwide, the relevance of his ideas is gaining increasing recognition. Deeply engaged with classical, medieval, and modern political philosophy, Strauss develops a sophisticated critique of the liberal democratic regime. The central issue of this research is to understand how Strauss and his disciples interpret, articulate, assess, and diagnose the problem of liberal democracy. There is an intense academic debate, marked by divergent interpretations around the question: was Strauss an antimodern and antiliberal critic or a sincere friend and subtle defender of the liberal democratic regime? The aim is to demonstrate that the answer to this question is complex and must take into account the intellectual trajectory of the German political thinker. To support this thesis, the study is divided into five specific objectives. The first examines the intellectual and political context that shaped the young Strauss, including his involvement in political Zionism and German nihilism. The second chapter focuses on Strauss?s reading of the origins of liberalism, analyzing the thoughts of Machiavelli, Hobbes, and Locke. The third chapter explores the crisis of modernity and the erosion of the theoretical foundations of liberalism, analyzing Strauss?s confrontation with Rousseau and Nietzsche. The fourth chapter investigates Strauss?s return to classical rationalism and how this influences his stance on modern liberal democracy. Finally, the fifth section addresses Strauss?s intellectual legacy, examining how his ideas have been reinterpreted by Straussian schools in Europe and America. Methodologically, the thesis combines synchronic and diachronic analyses to capture the evolution of Strauss?s thought, showing how he undergoes a substantial shift between his early and intermediate periods. The research identifies a significant change in Strauss, who, initially skeptical and severely critical of modernity, gradually becomes more conciliatory and even a ?critical friend? of liberal democracy, acknowledging its imperfections but also its superiority over other modern forms of government. The conclusion, therefore, diverges both from harsh critics who see him as an antiliberal and from sympathetic readers who overlook that Strauss went through a strongly antiliberal period in his youth. The thesis ultimately reinforces that Strauss evolves to a position recognizing liberal democracy as the best practical alternative available and highlights the philosopher?s significant influence on contemporary political thought, underscoring the importance of his esoteric reading method and his critique of modern philosophical and moral principles. Furthermore, it identifies different trends within Straussianism: one more critical of liberalism, from a Tocquevillian perspective, and another, Americanist, which passionately defends the foundational principles of the United States. Finally, by strengthening Straussian studies in Brazil, this work aims to consolidate an emerging research field that has been significantly expanding, promoting an ongoing dialogue about the future of liberal democracy.