Gestão pública da saúde bucal: a percepção de gestores municipais

Abstract

A gestão pública da saúde bucal é um fator essencial para garantir o acesso e a qualidade dos serviços de saúde. Os avanços na saúde têm sido impulsionados por políticas públicas que buscam integrar a atenção odontológica ao Sistema Único de Saúde. A qualificação dos gestores é um aspecto essencial neste processo, permitindo a articulação entre as demandas locais e as diretrizes nacionais. Alguns desafios têm sido apontados para integrar as políticas de saúde bucal em diferentes níveis de gestão e assegurar a continuidade e efetividade das ações implementadas. Este estudo teve como objetivo avaliar o processo de gestão pública de saúde bucal de gestores da Atenção Primária à Saúde (APS) na região serrana de Santa Catarina. Foi realizado um estudo transversal exploratório-descritivo, envolvendo uma abordagem que combinou métodos quantitativos e qualitativos. A pesquisa foi desenvolvida nos 18 municípios que integram a região serrana, com secretários de saúde, coordenadores da atenção primária e coordenadores da saúde bucal. Na fase quantitativa, um total de 52 gestores foram avaliados quanto ao desempenho nas dimensões de Planejamento, Monitoramento e Avaliação, e Ações Específicas em saúde bucal., Os resultados indicaram um desempenho geral classificado como \"moderado\", com destaque para o Planejamento, que obteve a maior média entre as dimensões avaliadas. Em contraste, as Ações Específicas apresentaram o pior desempenho, evidenciando lacunas na implementação de iniciativas que promovam a saúde bucal de forma efetiva. Essa disparidade sugere que, apesar de um planejamento razoável, a execução de ações efetivas ainda precisa de maior atenção e recursos. Na fase qualitativa, entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com 28 gestores, que expressaram sua percepção sobre as atribuições e responsabilidades na gestão da saúde bucal. Os resultados da análise de conteúdo apontaram que, embora os gestores demonstrassem clareza em suas funções e comprometimento com a transparência, a gestão se concentrava principalmente em atividades clínicas e educativas, descuidando dos aspectos fundamentais para a tomada de decisão e do controle social. Muitos gestores relataram desafios relacionados à falta de recursos e à dificuldade de integrar ações intersetoriais, o que impacta negativamente a eficácia das políticas de saúde bucal. Além disso, as entrevistas revelaram uma preocupação comum sobre a necessidade de capacitação contínua e suporte técnico para melhorar as habilidades de gestão e de liderança. Os gestores expressaram o desejo de ter um maior envolvimento da comunidade e uma melhor comunicação entre os diferentes níveis de gestão. Os achados desta pesquisa indicam a necessidade de fortalecer as práticas de gestão em saúde bucal, promovendo uma abordagem mais integrada e abrangente que além de atender indicadores específicos, contribua também para a melhoria da saúde da população. Para isso, é fundamental implementar estratégias que visem a formação de gestores, a valorização das ações de controle social e a promoção de um planejamento mais dinâmico e colaborativo. Essas medidas podem, potencialmente, elevar a qualidade dos serviços de saúde bucal, garantindo uma atenção mais eficaz às necessidades da população.

Abstract: The public management of oral health is an essential factor in ensuring access to and the quality of health services, where management faces significant challenges. This study aimed to evaluate the public oral health management process of Primary Health Care (PHC) managers in the Serra Catarinense region of Santa Catarina. A mixed-methods approach, combining quantitative and qualitative methods, was employed. The research was conducted in 18 municipalities in the region, involving an exploratory-descriptive cross-sectional study. In the quantitative phase, a total of 52 managers were assessed for their performance in the dimensions of Planning, Monitoring and Evaluation, and Specific Oral Health Actions using a Likert scale. The results indicated an overall performance classified as \"Moderate,\" with the Planning dimension standing out, having the highest average among the dimensions evaluated. In contrast, Specific Actions showed the worst performance, highlighting gaps in the effective implementation of initiatives promoting oral health. This disparity suggests that, despite reasonable planning, the execution of effective actions still requires more attention and resources. In the qualitative phase, semi-structured interviews were conducted with 28 managers, including health secretaries, primary care coordinators, and oral health coordinators, who shared their perceptions about their roles and responsibilities in oral health management. The content analysis results indicated that, although managers demonstrated clarity in their functions and commitment to transparency, management primarily focused on clinical and educational activities, neglecting key aspects necessary for decision-making and social control. Many managers reported challenges related to a lack of resources and difficulties in integrating intersectoral actions, which negatively affect the effectiveness of oral health policies. Additionally, the interviews revealed a common concern regarding the need for ongoing training and technical support to improve management and leadership skills. The managers expressed a desire for greater community involvement and better communication between different management levels. The findings of this research indicate the need to strengthen oral health management practices, promoting a more integrated and comprehensive approach that not only addresses specific indicators but also contributes to improving population health. To achieve this, it is essential to implement strategies aimed at training managers, enhancing social control actions, and fostering a more dynamic and collaborative planning process. These measures could potentially improve the quality of oral health services, ensuring more effective attention to the population's needs.