A pesca artesanal com auxílio de botos em Laguna e os desafios da preservação: Da ecologia política à cosmopolítica

Abstract

Este estudo analisa a pesca artesanal com botos em Laguna-SC, uma prática que transcende a simples captura de peixes, configurando-se como um encontro complexo entre pescadores, botos e o ambiente. Essa relação, construída ao longo de gerações, enfrenta desafios impostos por políticas públicas de conservação que, muitas vezes, desconsideram os saberes locais e impõem modelos de proteção que fragmentam essa interação. A pesquisa, ancorada na Ecologia Política e na Cosmopolítica, não se limita a questionar a necessidade de preservação, mas sim o que está sendo preservado e para quem. A Ecologia Política ajuda a compreender como as políticas ambientais reproduzem relações de poder que marginalizam as comunidades pesqueiras, enquanto a Cosmopolítica, proposta por Isabelle Stengers, desafia a visão tradicional da natureza como um recurso e sugere um olhar mais atento às múltiplas formas de vida envolvidas nesse sistema. Em vez de propor um modelo de gestão, o estudo discute a possibilidade de novos modos de relação, nos quais humanos e não-humanos possam coexistir de maneira menos hierárquica e mais participativa. Assim, a conservação não pode ser reduzida à proteção da biodiversidade isolada, mas deve ser compreendida como parte de um tecido relacional mais amplo, onde diferentes formas de existência e saberes são reconhecidos e respeitados.

This study analyzes artisanal fishing with dolphins in Laguna-SC, a practice that goes beyond mere fish capture, constituting a complex encounter between fishermen, dolphins, and the environment. This relationship, built over generations, faces challenges imposed by conservation policies that often disregard local knowledge and impose protection models that fragment this interaction. Anchored in Political Ecology and Cosmopolitics, this research does not simply question the need for preservation but rather what is being preserved and for whom. Political Ecology helps to understand how environmental policies reproduce power relations that marginalize fishing communities, while Cosmopolitics, proposed by Isabelle Stengers, challenges the traditional view of nature as a resource and suggests a more attentive perspective on the multiple forms of life involved in this system. Instead of proposing a management model, the study discusses the possibility of new modes of relationship, in which humans and non-humans can coexist in a less hierarchical and more participatory manner. Thus, conservation cannot be reduced to the isolated protection of biodiversity but must be understood as part of a broader relational fabric, where different forms of existence and knowledge are recognized and respected.