Estratégias neoliberais na configuração do espaço urbano: a incorporação da smart city em Florianópolis/SC

Abstract

Esta pesquisa se propõe a analisar como o paradigma smart city (cidade inteligente), está sendo incorporado em Florianópolis/SC, reforçando aspectos neoliberais na produção do espaço urbano. Com o avanço do urbanismo neoliberal nas últimas décadas, o gerenciamento urbano das cidades passa a abarcar características empresariais, repercutindo em estratégias e políticas que dão continuidade à lógica da cidade mercadoria. A smart city é uma roupagem desse processo, com o uso de tecnologias em infraestruturas urbanas, visando à coleta e ao armazenamento de dados. A implementação de soluções urbanas smart evidencia uma concepção do desenvolvimento tecnológico como neutro e apolítico, cuja replicabilidade é uma tendência, desconsiderando os contextos histórico-geográficos. A partir de uma abordagem qualitativa, com um estudo de caso, efetuamos revisão bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas para identificar as origens da chegada dos debates sobre smart cities, os principais agentes sociais e as articulações com a gestão urbana. A análise das justificativas e das intencionalidades dos agentes sociais envolvidos com a smart city na capital catarinense nos permitiu identificar características como a competitividade urbana e o marketing urbano, o solucionismo tecnológico, o fortalecimento de setores empresariais junto à gestão urbana e a concentração de recursos e de investimentos em espaços seletivos. As consequências da incorporação da smart city reforçam desigualdades socioespaciais ao mesmo tempo que alimentam os imaginários de Florianópolis como moderna, eficiente e otimizada: uma cidade turística, inovadora, tecnológica, com infraestrutura adequada para os avanços tecnológicos e pronta para atrair investimentos e negócios no mercado internacional de cidades.

Abstract: This study investigates how the smart city paradigm is being implemented in Florianópolis, Santa Catarina, reinforcing neoliberal approaches to urban space production. As neoliberal urbanism has expanded in recent decades, city governance has increasingly adopted corporate-oriented models, resulting in policies that perpetuate the commodification of urban space. The smart city concept repackages this process through technological infrastructures designed for data collection and storage, promoting a vision of technological development as neutral and apolitical - one that prioritizes replicability while ignoring historical and geographical contexts. Using a qualitative case study methodology combining literature review, document analysis, and semi-structured interviews, this research traces the introduction of smart city discourses to the region, identifies key social actors, and examines their relationships with urban governance structures. Analysis of stakeholder rationales and motivations reveals several characteristic outcomes: enhanced urban competitiveness and place branding, technological solutionism, strengthened ties between business sectors and urban management, and concentrated investment in selective areas. These smart city implementations simultaneously exacerbate socio-spatial inequalities while cultivating an image of Florianópolis as a modern, efficient, and optimized urban center - a technological and innovative tourist destination with infrastructure poised to attract international business investment in the global city marketplace