Portas abertas, caminhos desiguais: as diferentes formas de acesso e experiência acadêmica dos perfis discentes do curso de Ciências Sociais - UFSC

Abstract

As transformações no ensino superior brasileiro refletem os diferentes contextos políticos e econômicos do país, resultando em avanços e retrocessos na democratização do acesso. Desde a fundação das primeiras universidades, restritas às elites, até os períodos de expansão e inclusão ? impulsionados por projetos políticos, interiorização das instituições e a Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) ?, as políticas educacionais modificaram gradativamente o perfil dos estudantes universitários. No entanto, apesar da ampliação do acesso, barreiras socioeconômicas e simbólicas ainda atravessam a experiência acadêmica, afetando as trajetórias dos alunos de maneiras distintas. Após contextualizar historicamente a evolução do ensino superior no Brasil e as mudanças no perfil dos estudantes, esta pesquisa analisa as trajetórias de estudantes de Ciências Sociais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), buscando compreender como suas experiências refletem as desigualdades estruturais no ensino superior. A partir de um questionário com 77 estudantes e entrevistas aprofundadas com seis deles, a investigação percorre temas como origem social, renda, raça, gênero, evidenciando as diferentes formas de pertencimento e os desafios enfrentados no ambiente acadêmico. A partir de uma abordagem bourdieusiana, a pesquisa evidencia que, apesar das mudanças e avanços no ensino superior, as trajetórias individuais continuam marcadas por barreiras socioeconômicas e simbólicas que dificultam o aproveitamento acadêmico pleno. Dessa forma, a universidade segue operando como um espaço de reprodução das desigualdades sociais, ainda que sob novas configurações.

Abstract: The transformations in Brazilian higher education reflect the country's different political and economic contexts, leading to both advances and setbacks in the democratization of access. From the founding of the first universities ? initially restricted to the elite ? to periods of expansion and inclusion driven by political projects, institutional decentralization, and the Quota Law (Law No. 12,711/2012), educational policies have gradually reshaped the profile of university students. However, despite the expansion of access, socioeconomic and symbolic barriers continue to shape academic experiences, affecting students? trajectories in different ways. After historically contextualizing the evolution of higher education in Brazil and the changing student demographics, this research analyzes the trajectories of Social Sciences students at the Federal University of Santa Catarina (UFSC) to understand how their experiences reflect structural inequalities in higher education. Through a survey with 77 students and in-depth interviews with six of them, the study explores themes such as social background, income, race, and gender, highlighting different forms of belonging and the challenges faced in the academic environment. Using a Bourdieusian approach, the research reveals that despite changes and progress in higher education, individual trajectories remain shaped by socioeconomic and symbolic barriers that hinder full academic participation. Thus, the university continues to function as a space for the reproduction of social inequalities, albeit in new configurations.