O processo de trabalho interprofissional em reabilitação para o bem viver

Abstract

Em um contexto global de novos paradigmas, o trabalho em saúde depara-se com desafios complexos de adaptação ao seu efetivo, ao avanço das tecnologias, à sustentabilidade ambiental, à manutenção da democracia, entre outros. Há uma busca por novos saberes e outras competências para adequações no campo de trabalho. As estruturas organizacionais do trabalho buscam adaptar-se às demandas das equipes e das comunidades ao promover a saúde. A integralidade do Sistema Único de Saúde (SUS) é apontada como essencial para atender à sua finalidade e à qualidade de vida. As transformações pelas quais passa o mundo global requerem aprimoramento dos serviços universais de saúde e reabilitação, apontando-se para a qualificação da força de trabalho voltada a esse fim. Propõe-se uma reabilitação nos moldes da atenção biopsicossocial e espiritual que atinja a vida das pessoas em sua adaptabilidade, requerendo o desenvolvimento de novas competências. Este estudo teve como objetivo construir uma proposta de processo de trabalho em reabilitação para o bem viver, fundamentada em práticas interprofissionais. Para tanto, adotou-se como método a pesquisa-ação por sua característica de transformação em modelos e processos; aqui no contexto da reabilitação, visando estimular a colaboração interprofissional, fortalecer a integração, promover a reflexão crítica, identificar obstáculos e desenvolver soluções criativas. Nesse eixo da pesquisa-ação, fez-se uso de um design multimétodos, combinando abordagens quantitativas e qualitativas numa triangulação de dados. Foram realizadas duas revisões de escopo sobre o trabalho interprofissional em reabilitação, tendo a pesquisa-ação como eixo estruturador da análise organizacional. Também foi aplicada uma avaliação psicométrica utilizando o Inventário de Habilidades Sociais (IHS2-Del Prette) e conduzida uma exploração de experiência internacional no Hospital Nacional de Parapléjicos (HNP), na Espanha. No Brasil, o estudo foi desenvolvido no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC-EBSERH), da Universidade Federal de Santa Catarina, com observação in loco. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025. Os resultados destacaram a importância da colaboração interprofissional para a superação de barreiras institucionais e o aprimoramento dos cuidados em reabilitação. As revisões de escopo identificaram abordagens para o bem viver, habilidades sociais e principais práticas da equipe interprofissional. A pesquisa-ação permitiu mapear desafios e desenvolver soluções criativas para a reabilitação, enquanto a experiência internacional evidenciou a relevância da integralidade na atenção à saúde. Concluiu-se, ao final, que a colaboração interprofissional é essencial para a construção de sistemas de saúde resilientes e centrados na pessoa, que valorizam o autocuidado e o protagonismo dos indivíduos nas decisões relacionadas ao seu próprio bem-estar; que o processo salienta a importância do enfoque interdisciplinar e inclui os conhecimentos populares como fortalecimento de redes comunitárias; que tem uma finalidade social e busca diminuir desigualdades. Concluiu-se ainda que investir em competências é fundamental para o êxito do trabalho e a satisfação dos envolvidos; que a sinergia colaborativa dos profissionais direciona ações para a melhoria da qualidade de vida com o uso de capacidades potencializadas. Contudo, concluiu-se também que é preciso reverter a ausência de orientação técnica e formalizar o processo de trabalho interprofissional, já que a legitimação e regulação da colaboração interprofissional de saúde em reabilitação para o bem viver beneficia e traz satisfação à pessoa em seu processo de vida e aos trabalhadores da saúde. Portanto, denota-se que o processo de trabalho interprofissional em reabilitação para o bem viver é possível e constitui um novo paradigma.

In a global context of new paradigms, health work faces complex challenges of adapting to its workforce, technological advances, environmental sustainability, and maintaining democracy, among others. There is a search for new knowledge and other skills to adapt to the work environment. Organizational work structures seek to adapt to the demands of teams and communities when promoting health. The comprehensiveness of the Unified Health System (SUS) is considered essential to fulfill its purpose and quality of life. The transformations that the global world is undergoing require improvements in universal health and rehabilitation services, pointing to the qualification of the workforce focused on this purpose. Rehabilitation is proposed along the lines of biopsychosocial and spiritual care that reaches people's lives in their adaptability, requiring the development of new skills. This study aimed to build a proposal for a work process in rehabilitation for well-being, based on interprofessional practices. To this end, action research was adopted as the method due to its characteristic of transforming models and processes; here in the context of rehabilitation, aiming to stimulate interprofessional collaboration, strengthen integration, promote critical reflection, identify obstacles and develop creative solutions. In this axis of action research, a multi-method design was used, combining quantitative and qualitative approaches in a triangulation of data. Two scoping reviews were carried out on interprofessional work in rehabilitation, with action research as the structuring axis of the organizational analysis. A psychometric assessment was also applied using the Social Skills Inventory (IHS2-Del Prette) and an exploration of international experience was conducted at the National Hospital for Paraplegics (HNP), in Spain. In Brazil, the study was developed at the Polydoro Ernani de São Thiago University Hospital (HU-UFSC-EBSERH), of the Federal University of Santa Catarina, with on-site observation. Data collection took place between February 2024 and January 2025. The results highlighted the importance of interprofessional collaboration to overcome institutional barriers and improve rehabilitation care. Scoping reviews identified approaches to well-being, social skills, and key practices of the interprofessional team. Action research allowed mapping challenges and developing creative solutions for rehabilitation, while international experience highlighted the importance of comprehensiveness in health care. The conclusion was that interprofessional collaboration is essential for building resilient, person-centered health systems that value self-care and the protagonism of individuals in decisions related to their own well-being; that the process emphasizes the importance of an interdisciplinary approach and includes popular knowledge as a means of strengthening community networks; that it has a social purpose and seeks to reduce inequalities. It was also concluded that investing in skills is essential for the success of the work and the satisfaction of those involved; that the collaborative synergy of professionals directs actions to improve quality of life through the use of enhanced capabilities. However, it was also concluded that it is necessary to reverse the lack of technical guidance and formalize the interprofessional work process, since the legitimization and regulation of interprofessional collaboration in health rehabilitation for well-being benefits and brings satisfaction to the person in their life process and also to health workers. Therefore, it is noted that the interprofessional work process in rehabilitation for well-being is possible and constitutes a new paradigm.