Etnobotânica associada a três Unidades de Conservação no litoral catarinense

Abstract

Estudos Etnobotânicos buscam compreender como as pessoas interagem com o meio na obtenção de recursos vegetais para o atendimento de suas necessidades culturais e físicas. Essas interações são mediadas por sistemas de conhecimentos tradicionais, que refletem percepções sobre as plantas a partir de perspectivas locais. As áreas naturais e seu entorno são locais onde estas interações ocorrem. Portanto, conduzimos esta pesquisa considerando as comunidades inseridas e no entorno da Área de Proteção Ambiental Municipal da Ponta do Araçá, da Reserva Particular do Patrimônio Natural Morro de Zimbros e do Parque Natural Municipal da Costeira de Zimbros, Unidades de Conservação (UCs) localizadas em Porto Belo e Bombinhas, Santa Catarina. A partir do contato prévio com lideranças das comunidades envolvidas, conduzimos 47 entrevistas individuais semiestruturadas, utilizando o método de amostragem ?Bola de Neve?, cuja pergunta direcionadora solicitava indicação dos conhecedores da flora da região maiores de 18 anos. Complementarmente, efetuamos uma amostragem aleatória por conglomerados com moradores do entorno das UCs. No primeiro capítulo objetivamos compreender a relação dos moradores locais com as UCs. Observamos o reconhecimento por parte dos entrevistados acerca das contribuições da natureza advindas da existência das áreas conservadas para a sua qualidade de vida, em especial, as contribuições não materiais, que são efeitos subjetivos ou psicológicos relacionados à natureza. Entretanto, registramos que é essencial que as comunidades do entorno das UCs tenham espaço de participação junto aos processos de governança destes territórios naturais protegidos. No segundo capítulo, investigamos os conhecimentos Etnobotânicos e a influência do perfil socioeconômico dos entrevistados no conhecimento sobre plantas. A partir de 1.240 citações de plantas, observamos que o conhecimento Etnobotânico está associado majoritariamente a espécies de plantas exóticas (146 espécies), devido ao histórico de uso e ocupação do solo, ainda que a riqueza de plantas nativas conhecida também seja expressiva (109 espécies). Dentre as categorias de uso, as plantas alimentares e medicinais tiveram destaque nas entrevistas. A idade, a considerar recorte temporal de cinquenta anos, a permanência no local e a ocupação relacionada à tradicionalidade são correlatas a um maior repertório Etnobotânico. As espécies de plantas citadas em menor frequência, podem ser um indicativo de perda de conhecimentos acerca da biodiversidade dentro da comunidade, já que a necessidade direta das plantas como recurso tende a decair devido a urbanização. Entretanto é necessário aprofundar estudos com viés temporal para avaliar se de fato há ocorrência de perda de conhecimentos Etnobotânicos. A manutenção de quintais funcionais, hortas, e redes de trocas de plantas proporcionam continuidade dos conhecimentos Etnobotânicos e assim como novas formas de elaboração destes conhecimentos dentro do espaço urbano, propiciando qualidade de vida aos moradores. No terceiro capítulo demonstramos em forma de relato as ações que resultaram da articulação da pesquisa e extensão.

Abstract: Ethnobotanical studies aim to understand how people interact with the environment in obtaining plant resources to meet their cultural and physical needs. These interactions are mediated by traditional knowledge systems that reflect local perceptions of plants. Natural areas and their surroundings are places where these interactions occur; therefore, we conducted this research considering the communities located within and around the Área de Proteção Ambiental Municipal da Ponta do Araçá, da Reserva Particular do Patrimônio Natural Morro de Zimbros e do Parque Natural Municipal da Costeira de Zimbros, Protected Areas located in Porto Belo and Bombinhas, Santa Catarina, Brazil. Following initial contact with local community leaders, we conducted 47 individual semi-structured interviews using the ?Snowball? sampling method. The guiding question asked for recommendations of individuals over 18 years old who were knowledgeable about the region?s flora. Additionally, we performed random cluster sampling. In the first chapter, we aimed to understand the relationship between local residents and the Protected Areas. We observed that interviewees recognized the contributions of nature, stemming from the existence of conserved áreas, to their quality of life, especially non-material contributions, which are subjective or psychological effects related to nature. However, it is essential that communities surrounding the Protected Areas have spaces for participation in the governance processes of these territories. In the second chapter, we investigated ethnobotanical knowledge and the influence of socioeconomic profiles on plant knowledge. Based on 1.240 plant citations, we found that ethnobotanical knowledge is primarily associated with exotic plant species (146 species), due to the historical patterns of land use and occupation, although the richness of known native plants is also significant (109 species). Among the use categories, food and medicinal plants stood out in the interviews. Older age, length of residence, and occupations linked to traditional practices were correlated with a broader ethnobotanical repertoire. Less frequently cited plant species may indicate a loss of biodiversity knowledge within the community, as the direct need for plants as a resource tends to decline due to urbanization. However, it is necessary to carry out in-depth studies with a temporal bias to assess whether there is in fact a loss of Ethnobotanical knowledge. The maintenance of functional home gardens, vegetable plots, and plant exchange networks helps preserve ethnobotanical knowledge and enables new ways of developing this knowledge in urban settings, contributing to residents? quality of life. In the third chapter, we present, in the form of a report, the actions that resulted from the articulation between research and outreach.