Title: | Fenomenologia da formação humana a partir de Martin Heidegger: do inacabamento |
Author: | Venzon, Patrícia Soares |
Abstract: |
A presente tese dá-se no horizonte da Filosofia da Educação, a qual tem por mote principal a (pre)ocupação com a (auto)formação humana. Indo ao encontro de tal (pre)ocupação, dedicamo-nos à explicitação do que designamos como o paradigma do acabamento da formação humana, presente na metafísica tradicional, o qual, supostamente, se reflete em práticas pedagógicas baseadas em um modelo ideal de ser humano a ser alcançado, o que valida um modo de ser e tem como meta uma formação padronizada. Empenhamo-nos, ainda, em deslindar o que seria a perspectiva do inacabamento da formação humana, a partir de uma aproximação à fenomenologia hermenêutica inaugurada pelo filósofo alemão Martin Heidegger. Tal perspectiva indica uma ruptura, ou um modo outro de lidar, com a normatividade imposta pelo paradigma do acabamento. Nossa pesquisa educacional, de cunho qualitativo, ancorada em ampla análise bibliográfica e conceitual, aproxima-se da vasta trama conceitual de Martin Heidegger (1981, 1987, 1995, 2000, 2008a, 2008b, 2009, 2011, 2012a, 2012b, 2012c, 2012d, 2013a, 2013b, 2013c, 2015, 2018a, 2018b, 2019), tomando por fontes primárias as obras (ou os caminhos) do próprio filósofo. Outrossim, conta com os contributos de seus renomados comentadores, tais como Hans-Georg Gadamer (2007a, 2007b, 2011, 2012, 2015), Ernildo Stein (2003, 2008, 2010, 2012, 2014a, 2014b, 2015, 2016, 2019, 2022), Günter Figal (2016), Mafalda Faria Blanc (1998, 2018), Franco Volpi (2013), entre outros, o que traz sustentação e adensamento à nossa tese. A metodologia de pesquisa adotada, que pode ser mais bem interpretada como um caminho autointerpretativo e autoformativo (Moura, 2022; Moura; Mannes, 2024), segue no rastro do método fenomenológico hermenêutico, o qual não pode ser tomado como um método no sentido tradicional, de postura positivista, uma vez que se afasta, sobremaneira, de uma relação entre sujeito e objeto de estudo. Uma das principais elucidações da analítica existencial desenvolvida por Heidegger, em sua obra capital Ser e tempo (1927/2012a, 2013c), é a primazia do possível sobre o efetivo no modo de ser do ser humano, indicando a circularidade interpretativa e a finitude como modos de ser da existência. Em nossa essência está a temporalidade, por isso nunca podemos pensar a nós mesmos em um acabamento, pois carregamos uma indeterminidade ontológica originária inapagável. Todavia, enquanto resultado do esquecimento do sentido do ser, instalou-se na história da filosofia uma ontologia da ?coisa?, cujo ?ser? dos seres humanos passou a ser interpretado como substância (ousia), presença constante. É com isso que Heidegger busca romper em sua fenomenologia hermenêutica. Nossa análise recai, também, sobre três tipos de formação que performaram uma tradição: a Paideia, a Bildung e a formação tecnicista, donde nos avizinhamos do campo da Formação de Professores. O caminho percorrido nos leva à possibilidade da perspectiva de uma pedagogia do inacabamento, destacando-se que não nos propomos a definir outra pedagogia em substituição à vigente, mas, sim, dar a pensar acerca do que está instituído, levando em consideração um ?comportamento? inacabado que possibilite caminhar nas fronteiras do que está (im)posto e, com isso, encontrar modos de afirmação da multiplicidade do ser. Abstract: This thesis is grounded in the Philosophy of Education, which has as its main theme the (pre)occupation with human (self)formation. In line with this (pre)occupation, we clarify what we call the paradigm of completion of human formation, present in traditional metaphysics, which is supposedly reflected in pedagogical practices based on an ideal model of human being to be achieved, which would validate a way of being by targeting a standardized formation. We also attempt to unravel the perspective of the incompleteness of human formation, based on an approximation with the hermeneutic phenomenology inaugurated by the German philosopher Martin Heidegger. This perspective indicates a rupture, or another way of dealing with the norms imposed by the paradigm of completion. Our educational research, which has a qualitative nature, is anchored in a broad bibliographical and conceptual analysis, and approaches the vast conceptual web of Martin Heidegger (1981, 1987, 1995, 2000, 2008a, 2008b, 2009, 2011, 2012a, 2012b, 2012c, 2012d, 2013a, 2013b, 2013c, 2015, 2018a, 2018b, 2019), taking as primary sources the works (or paths) of the philosopher himself. Furthermore, it relies on the contributions of renowned commentators such as Hans-Georg Gadamer (2007a, 2007b, 2011, 2012, 2015), Ernildo Stein (2003, 2008, 2010, 2012, 2014a, 2014b, 2015, 2016, 2019; 2022), Günter Figal (2016), Mafalda Faria Blanc (1998, 2018), Franco Volpi (2013), among others who give support and density to our thesis. The research methodology adopted, which can best be interpreted as a self-interpretative and self-formative path (Moura, 2022; Moura; Mannes, 2024), follows the hermeneutic phenomenological method, which cannot be understood as a method in the traditional sense ? with a positivist stance ? since it would diverge greatly from the relationship established between subject and object of study. One of the main clarifications of the existential analytics developed by Heidegger, in his capital work Being and Time (1927/2012a, 2013c), is the primacy of the possible over the effective in the mode of being of humans, indicating interpretative circularity and finitude as modes of being of existence. Temporality is at our essence, which is why we can never think of ourselves as complete, since we carry an indelible original ontological indeterminacy. However, as a result of forgetting of the meaning of being, an ontology of the ?thing? was established in the history of philosophy, in which the ?being? of human beings came to be interpreted as substance (ousia), a constant presence. This is what Heidegger seeks to break with in his hermeneutic phenomenology. Our analysis also focuses on three types of formation that performed a tradition: Paideia, Bildung and technical formation, from which we approach the field of teacher formation. The path taken leads us to meet a possible perspective of a pedagogy of incompleteness, emphasizing that we do not propose to define another pedagogy to replace the current one, but rather to encourage thinking about what is instituted, taking into account an incomplete ?behavior? that makes it possible to walk on the frontiers of what is (im)posed and, with this, find ways of affirming the multiplicity of being. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2025. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/265825 |
Date: | 2025 |
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