Fabricando marujos em mar revolto: a Companhia de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina nos tempos da Guerra do Paraguai

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Fabricando marujos em mar revolto: a Companhia de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina nos tempos da Guerra do Paraguai

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Title: Fabricando marujos em mar revolto: a Companhia de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina nos tempos da Guerra do Paraguai
Author: Santos, Gabriel Luiz Steiner dos
Abstract: Quando a Guerra do Paraguai se iniciou em 1864, o projeto da Marinha brasileira das “Companhias de Aprendizes Marinheiros” estava para completar sua primeira década de “difusão” pelas províncias do Império. Tratava-se de uma aposta das elites dirigentes para formar um novo tipo de marujada a partir do disciplinamento de jovens para as fainas do mar. Com esses “novos” marujos, visava-se eliminar a persistente e prejudicial dependência da Marinha em relação à mão de obra estrangeira e àquela proveniente do recrutamento forçado de adultos. Dotada de uma dessas Companhias desde 1858, a humilde província catarinense — já vinculada aos dilemas geopolíticos do Prata desde os tempos coloniais — teria sua vida profundamente impactada com a Guerra do Paraguai, sobretudo com a chegada massiva de tropas e das doenças que as acompanhavam. Levando em conta esse cenário, este trabalho tem como objetivo investigar os impactos daquele conflito sobre a Companhia de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina. Metodologicamente a pesquisa foi realizada em fontes jornalísticas — principalmente entre os periódicos “O Argos”, “O Cruzeiro do Sul”, “O Despertador”, “O Mercantil” e “A Regeneração” —, e em documentos governamentais como os Relatórios e Almanaques do Ministério da Marinha, Relatórios do Presidente da Província de Santa Catarina e Anais da Câmara dos Deputados produzidos entre as décadas de 1850 e de 1870. Para sua análise, foi realizada uma leitura na perspectiva da história documental e da análise de discurso. Aliado a esse aporte metodológico, considera-se também que aquelas “escolas militares” para a formação de marinheiros se aproximavam do modelo de “instituições totais” descrito pelo sociólogo Erving Goffman. Os resultados mostram que, no curto prazo, a guerra implicou uma maior “mortificação do eu” entre os aprendizes, o que acabou por contribuir para o projeto original da Marinha ao instalar as sedes provinciais: facilitar a separação dos menores de seus pais. Por outro lado, a deterioração das condições sanitárias e a proximidade entre os recrutamentos adulto e infantil levaram a uma maior dificuldade para incorporar novos internos, resultando em uma redução drástica no efetivo da Companhia. Durante o conflito, os aprendizes precisaram lidar com a perda de companheiros e comandantes, com a incorporação de veteranos na equipe dirigente e com uma maior exposição à sociedade e aos discursos de guerra. Ao mesmo tempo que os embates no Prata serviram para patentear aquela instituição como a única saída possível para o “problema do recrutamento” na Marinha, também, no médio prazo, auxiliaram na decisão de reduzir o tamanho da sede catarinense, que, a partir de 1878, ver-se-ia reduzida à metade ao perder uma de suas divisões.When the Paraguayan War began in 1864, the Brazilian Navy’s Companhias de Aprendizes Marinheiros (Companies of Apprentice Sailors) project was nearing the completion of its first decade of expansion across the provinces of the Empire. It was a strategic move by the ruling elites to form a new kind of naval crew by disciplining young recruits to withstand the hardships of maritime life. With these “new” sailors, the goal was to eliminate the Navy’s persistent and detrimental dependence on foreign labor and on the forced recruitment of adults. Since 1858, the modest province of Santa Catarina — already entangled in the geopolitical dilemmas of the La Plata region since colonial times — had hosted one of these Companies, and would see its daily life deeply affected by the Paraguayan War, particularly with the massive influx of troops and the spread of accompanying diseases. In light of this context, the present study aims to examine the impacts of that conflict on the Companhia de Aprendizes Marinheiros of Santa Catarina. Methodologically, the research draws on journalistic sources — primarily the periodicals O Argos, O Cruzeiro do Sul, O Despertador, O Mercantil, and A Regeneração — as well as governmental documents such as the Reports and Almanacs of the Ministry of the Navy, the Reports of the President of the Province of Santa Catarina, and the Annals of the Chamber of Deputies, all produced between the 1850s and 1870s. These materials were analyzed from the perspectives of documentary history and discourse analysis. Additionally, the study considers that such "military schools" for training sailors resembled the model of "total institutions" described by sociologist Erving Goffman. The findings suggest that, in the short term, the war intensified the “mortification of the self” among the apprentices, ultimately advancing the Navy’s original objective in establishing provincial headquarters: to facilitate the separation of minors from their families. On the other hand, deteriorating sanitary conditions and the blurred lines between adult and child recruitment made it increasingly difficult to incorporate new apprentices, leading to a drastic reduction in the Company’s personnel. During the conflict, apprentices had to cope with the loss of peers and commanders, the integration of veterans into leadership positions, and greater exposure to societal and wartime discourses. While the clashes in the La Plata region underscored the institution as the Navy’s only viable solution to its “recruitment problem,” they also contributed — over the medium term — to the decision to scale down the Santa Catarina headquarters, which, from 1878 onward, was reduced by half with the loss of one of its divisions.
Description: TCC (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, História.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/265851
Date: 2025-06-24


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