Abstract:
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O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória autoimune causada
por reação de hipersensibilidade mediada por imunocomplexos que se depositam
em múltiplos órgãos e tecidos, principalmente pele e rins, sendo mais prevalente em
mulheres. O diagnóstico é baseado na avaliação clínica, anamnese detalhada e
exames laboratoriais, como a detecção de anticorpos antinucleares e anti-DNA. O
tratamento do LES, por sua vez, é complexo, de alto custo e de difícil acesso,
fundamentando-se no uso de terapias com glicocorticóides, imunossupressores ou
imunomoduladores. O sucesso terapêutico ou a evolução clínica dependem de
múltiplos fatores relacionados à patogênese, incluindo gênero, medicamentos,
radiação ultravioleta e a microbiota intestinal (MI). Esta última destaca-se como um
importante fator ambiental capaz de influenciar o desenvolvimento e a progressão do
LES. Diante disso, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre
o uso da modulação da MI como alternativa terapêutica no LES, abordando seus
mecanismos, principais abordagens disponíveis, suas vantagens e limitações.
Foram selecionados estudos originais e secundários por meio de buscas em bases
de dados eletrônicas utilizando os descritores "Gastrointestinal Microbiome"[Mesh]
AND "Autoimmunity"[Mesh]. Os resultados indicam que as principais estratégias
para modulação da MI no LES envolvem o uso de probióticos, transplante de
microbiota fecal, intervenção dietética, antibióticos e vacinas contra microrganismos
específicos. Em modelos experimentais da doença, elas atenuaram a inflamação e
modularam a resposta imunológica por meio de mecanismos como o aumento de
linfócitos T reguladores, redução de citocinas pró-inflamatórias, maior produção de
metabólitos com ação anti-inflamatória e restauração da integridade da barreira
intestinal. Tais efeitos foram associados à diminuição do índice de atividade da
doença e dos níveis de autoanticorpos anti-DNA. Apesar dos resultados promissores
e do potencial como alternativa terapêutica no LES, ainda são escassos estudos de
ensaio clínico bem controlado, sendo necessários novos estudos para avaliar a
segurança e a eficácia dessas abordagens a longo prazo, considerando os riscos
inerentes à modulação da MI em indivíduos imunocomprometidos e a ausência de
protocolos terapêuticos padronizados. |