Do que adoecem os trabalhadores e as trabalhadoras dos frigoríficos: o caso das doenças infectocontagiosas

Abstract

A pandemia evidenciou algo que os profissionais de saúde e segurança no trabalho já percebiam de maneira empírica: que as indústrias de abate e processamento de carne para consumo humano se constituem em um ambiente laboral propício à propagação de agentes biológicos entre humanos. Estes ambientes fabris são organizados em grandes galpões industriais onde há aglomeração humana, com temperatura local rebaixada artificialmente, baixa taxa de renovação de ar nos locais de trabalho, organização de trabalho rígida e com extensas jornadas que levam à extenuação física e mental, entre outros fatores de risco. Por sua vez, estudos recentes demonstram que, a cada quatro novas doenças infecciosas que acometem a humanidade, três estão relacionadas às zoonoses (FAO, 2019), o que coloca as indústrias frigoríficas como um foco prioritário de atenção e vigilância enquanto potenciais espaços de difusão de novas doenças que circulam entre animais e humanos. O objetivo da pesquisa é o de integrar conhecimento específico (artigo 1) e dados epidemiológicos (artigo 2) relacionados a patologias que podem acometer os trabalhadores do setor frigorífico, apresentando um descritivo epidemiológico a partir dos benefícios por incapacidade concedidos aos trabalhadores de frigoríficos, com recorte para as doenças infectocontagiosas. Os resultados são apresentados a partir de dois artigos: o primeiro apresenta uma revisão bibliográfica extensa, que possibilitou uma revisão integrativa com o recorte das doenças infectocontagiosas entre trabalhadores de frigoríficos, e o segundo artigo, que se constitui em um panorama epidemiológico geral sobre os agravos à saúde de trabalhadores de frigoríficos que levam ao afastamento do trabalho mediante concessão de auxílio-doença junto ao INSS, a partir dos 22 capítulos da CID-10. Na sua conclusão, tais artigos permitem elaborar sugestões às autoridades, empresas e sindicatos que visam fortalecer a visão sobre a necessidade de instituição e aperfeiçoamento de sistemas de atenção e monitoramento do risco biológico para a saúde humana, laboral e da comunidade nos frigoríficos.

Abstract: The pandemic has highlighted something that occupational health and safety professionals had already noticed empirically: that meat processing and slaughterhouses for human consumption are work environments that are conducive to the spread of biological agents among humans. These manufacturing environments are organized in large industrial warehouses where there is human overcrowding, with artificially low local temperatures, low air exchange rates in the workplace, rigid work organization and long working hours that lead to physical and mental exhaustion, among other risk factors. In turn, recent studies show that for every four new infectious diseases that affect humanity, three are related to zoonoses (FAO, 2019), which places meatpacking industries as a priority focus of attention and surveillance as potential spaces for the spread of new diseases that circulate between animals and humans. The objective of the research is to integrate specific knowledge (article 1) and epidemiological data (article 2) related to pathologies that can affect workers in the meatpacking sector, presenting an epidemiological description based on the disability benefits granted to meatpacking workers, with a focus on infectious diseases. The results are presented in two articles: the first presents an extensive bibliographic review, which allowed an integrative review with a focus on infectious diseases among meatpacking workers, and a second article, which constitutes a general epidemiological overview of the health problems of meatpacking workers that lead to absence from work through the granting of sickness benefits from the INSS, based on the 22 chapters of the ICD-10. In their conclusion, these articles allow for the elaboration of suggestions to the authorities, companies and unions that aim to strengthen the vision on the need to establish and improve systems of attention and monitoring of biological risks to human, occupational and community health in meatpacking plants.