Abstract:
|
Os povos indígenas no Brasil representam menos de um por cento da população total, porém, constituem uma ampla diversidade sócio-política, cultural e organizacional o que também é observado no estabelecimento de conceitos e nos processos saúde, doença e cuidado. Dentre os mais de 300 povos identificados no país, estão os Kaingangs, distribuídos, principalmente na região sul do Brasil, dos quais nos propomos a descrever como se dão as práticas médicas tradicionais e o trabalho desenvolvido pelos Kujã, médicos tradicionais deste povo, no Sul do Brasil, pensando como tem se efetivado os processos de articulação entre as práticas médicas tradicionais e a ocidental, trazendo enfoque na participação dos Kujã nos processos de cuidar em saúde entre os povos Kaingang, a partir da reflexão de que a Política de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, discorre em suas diretrizes, a necessidade em articular, dentro dos territórios, durante os processos de cuidado, as diferentes práticas médicas ali estabelecidas, o que incluiria a dos curadores tradicionais Kaingang: os Kujã. A proposta é justificada pela escassez de trabalhos previamente observados em relação a esta temática, o delineamento do estudo se deu a partir da análise documental, com base em fontes acadêmicas e institucionais, abordando especificamente os Kujã nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No processo de interpretação dos achados, utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin, a qual nos possibilitou distribuir os resultados em duas categorias: saberes e práticas médicas tradicionais; e relação com o sistema biomédico. Os resultados demonstram a importância dos Kujã na promoção da saúde integral entre os Kaingang, por meio do uso de ervas e rituais espirituais. No entanto, há escassez desses profissionais e ausência de reconhecimento institucional. Apesar de iniciativas comunitárias e acadêmicas, a falta de políticas públicas efetivas enfraquece sua atuação e o pensamento médico hegemônico deslegitima o saber destes médicos tradicionais. Conclui-se que o reconhecimento e integração dos Kujã ao sistema de saúde médico ocidental é essencial para promover o cuidado intercultural e o respeito à diversidade cultural indígena, porém, ele parece não se concretizar na prática, o que representa uma fragilidade na implementação das diretrizes políticas pensadas para a consolidação da atenção à saúde indígena.Sabemos que, o discurso médico, tende a eleger o positivismo como forma de legitimar os saberes; mas também precisamos reconhecer, enquanto médicos, que outros saberes também são capazes de fomentar as práticas de cuidado, especialmente em espaços étnicos tão diversos. Esta reaproximação dos saberes e sua articulação se fazem necessárias e devem ser pensadas como espaços possíveis de atenderem às especificidades relacionadas à saúde desta população. |