Transição de Cadeias Globais de Valor para Regionais: uma análise do setor internacional e brasileiro de placas-mãe após a crise de 2007-2009

Abstract

Este trabalho analisa a transição das Cadeias Globais de Valor (CGVs) para Cadeias Regionais de Valor (CRVs) no comércio internacional e na inserção brasileira do setor de placas-mãe, a partir da crise de 2007-2009. O objetivo é investigar de que forma os fluxos comerciais, a concentração geográfica e o posicionamento regional foram reconfigurados nesse período. A metodologia combina revisão teórica com análise empírica dos dados de exportação de placas-mãe nos períodos de 2008-2010 e 2021-2023, utilizando indicadores como distância ponderada, índice de Gini e fluxos intracontinentais. Os resultados indicam que, no cenário internacional, há uma tendência clara de regionalização, com redução da distância ponderada média das exportações, intensificação dos fluxos intracontinentais e crescimento de Acordos Comerciais Regionais (RTAs), especialmente do tipo FTA&EIA. Isso sugere a formação de CRVs mais compactas, com maior resiliência a choques externos. O aumento do índice de Gini reforça a concentração do comércio em mercados próximos. Em contraste, o Brasil apresenta uma tendência oposta: aumento da distância ponderada, elevação do índice de Gini devido à concentração em poucos parceiros geograficamente dispersos (como EUA e China) e retração dos fluxos intracontinentais. A trajetória das políticas industriais brasileiras no setor eletrônico revela-se descontínua, e a participação em RTAs permanece limitada a Acordos de Escopo Parcial (PSAs), o que restringe a integração em cadeias de maior valor agregado. Conclui-se que a regionalização das cadeias produtivas no sistema internacional é uma realidade consolidada, enquanto a inserção brasileira no setor de placas-mãe permanece periférica, com dependência de mercados distantes e uma estratégia comercial e industrial pouco articulada com as dinâmicas atuais de regionalização produtiva, resiliência e agregação de valor.

This study analyzes the transition from Global Value Chains (GVCs) to Regional Value Chains (RVCs) in international trade, focusing on Brazil's integration into the motherboard sector following the 2007-2009 crisis. The objective is to investigate how trade flows, geographical concentration, and regional positioning have been reconfigured during this period. The methodology combines a theoretical review with an empirical analysis of motherboard export data from 2008-2010 and 2021-2023. Key indicators such as weighted distance, Gini index, and intracontinental flows are employed. The results indicate a clear trend of regionalization in the international scenario, characterized by a reduction in the average weighted distance of exports, intensified intracontinental flows, and a rise in Regional Trade Agreements (RTAs), particularly of the Free Trade Agreement & Economic Integration Agreement (FTA&EIA) type. This suggests the formation of more compact RVCs with enhanced resilience to external shocks. The increasing Gini index further reinforces the concentration of trade in proximate markets. In contrast, Brazil exhibits an opposing trend: an increase in weighted distance, a higher Gini index due to concentration in a few geographically dispersed partners (such as the USA and China), and a retraction of intracontinental flows. The trajectory of Brazilian industrial policies in the electronics sector proves to be discontinuous, and participation in RTAs remains limited to Partial Scope Agreements (PSAs), thereby restricting integration into higher value-added chains. In conclusion, the regionalization of production chains within the international system is a consolidated reality. Meanwhile, Brazil's insertion into the motherboard sector remains peripheral, characterized by a dependence on distant markets and a commercial and industrial strategy that is poorly articulated with current dynamics of productive regionalization, resilience, and value addition.