À beira do retorno? Potencial ecológico para reintrodução de felinos na Ilha de Santa Catarina.

Abstract

A reintrodução de espécies-chave pode restaurar funções ecológicas e aumentar a resiliência dos ecossistemas, especialmente por meio da regulação das populações de presas e do controle de espécies dominantes ou exóticas invasoras, além de contribuir para a conservação das espécies, especialmente quando listadas como vulneráveis à extinção, ocorrendo em um hotspot de megadiversidade e uma região prioritária para a conservação. A Ilha de Santa Catarina (ISC) destaca-se como a maior ilha costeira brasileira com remanescentes desse bioma, assim como outras áreas do estado de Santa Catarina, sofreu intensa fragmentação e perda de áreas naturais. Nos últimos anos, ações de conservação e políticas públicas vêm promovendo a recuperação de fragmentos florestais na porção insular de Florianópolis, acompanhada por um aumento na riqueza de espécies locais. Para avaliar a existência de predadores de topo, o Projeto Fauna Floripa (PFF) realizou um grande esforço de amostragem utilizando armadilhas fotográficas em toda a Ilha. Buscando atender às demandas levantadas por parceiros do PFF, este estudo teve como objetivo fornecer subsídios para avaliação de propostas de reintrodução de felinos de pequeno e médio porte na região. Assim, foi realizada: 1) uma revisão bibliográfica sobre registros históricos da presença desses animais na ISC; 2) uma avaliação da presença atual desses animais na ISC, sendo analisada a bibliografia e dados de armadilhas fotográficas, que totalizaram 8.440 armadilhas-dia; 3) uma análise das chances de registro de felinos na Ilha de Santa Catarina - a partir de dados obtidos no continente do estado de Santa Catarina e, 4) a estimativa de abundância de predadores e abundância e biomassa de presas - mamíferos de menor porte - na ISC, a partir da área de habitats existentes na Ilha e da densidade das espécies no continente de SC ou Ilhas da costa brasileira. Este estudo verificou: 1) que revisões bibliográficas indicam que as espécies de felinos de grande e médio porte ocorreram na ISC; e que espécies de menor porte foram registradas mas não identificadas taxonomicamente; 2) que registros atuais não foram obtidos para nenhuma das espécies; 3) que felinos de pequeno porte deveriam ter sido registrados na ISC caso ainda ocorressem, pois as chances de registros de Leopardus guttulus, L. wiedii, L. pardalis e Herpailurus yagouaroundi foram maiores que 99,9%. Esta análise sugere também elevada probabilidade das espécies terem ocorrido na Ilha no passado em função da presença das espécies em remanescentes muitas vezes menores que a ISC. Por exemplo, L. guttulus foi registrada em todas as áreas do continente onde o esforço de amostragem foi maior que 250 armadilhas dia (n = 23, de 29 áreas); 4) que estimativas conservadoras sugerem para a ISC em torno de 13 indivíduos de L. guttulus, 11 de L. wiedii, 24 de L. pardalis e 19 de H. yagouaroundi; que Akodon montensis a espécie mais abundante foi seguida por Euryoryzomys russatus e Didelphis aurita; que a biomassa de potenciais presas - mamíferos de menor porte - em um momento determinado é de 178 mil kg considerando o habitat utilizado em comum pelos predadores.