Autoavaliação vocal de pacientes laringectomizados totais usuários de eletrolaringe, voz esofágica e prótese traqueoesofágica

Abstract

Introdução: Para uma reabilitação vocal adequada, é fundamental a realização de uma avaliação abrangente, incluindo a aplicação de instrumentos de autoavaliação. No que se refere às vozes de substituição, sabe-se que aspectos anatomofisiológicos da produção vocal e a qualidade da voz variam conforme o método de reabilitação usado. Diante disso, surge a necessidade de comparar o resultado da autoavaliação da qualidade vocal de falantes esofágicos, traqueoesofágicos e por laringe eletrônica. Objetivo: Analisar a autoavaliação vocal de laringectomizados totais de acordo com o método de reabilitação da comunicação oral utilizado. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, observacional e de abordagem quanti-qualitativa. O grupo foi composto por 38 indivíduos laringectomizados totais, reabilitados com prótese traqueoesofágica (PTE), laringe eletrônica (LE) e/ou voz esofágica (VE). Para a autoavaliação vocal, foram realizadas quatro perguntas, cada uma relacionada a um parâmetro: qualidade geral da voz, inteligibilidade de fala, presença de ruído e velocidade de fala/fluência. Os participantes atribuíram notas de 0 a 10 para cada item e justificaram oralmente as notas das duas primeiras perguntas. As variáveis sociodemográficas, clínicas e as respostas da autoavaliação foram analisadas por meio de testes estatísticos apropriados à distribuição dos dados, como o Teste de Kruskal-Wallis e as correlações de Spearman. Para auxiliar na análise qualitativa, utilizou-se o software IRAMUTEQ, com geração de nuvens de palavras e gráficos de análise de similitude. Resultados: Entre os participantes, 17 (44,7%) utilizavam PTE, sendo este o método mais frequente. Esse grupo também apresentou, na autoavaliação, a melhor nota para o parâmetro ?qualidade geral da voz?. Observou-se uma predominância de indivíduos do sexo masculino e com baixa escolaridade, refletindo o perfil sociodemográfico característico da população laringectomizada. As análises qualitativas corroboraram os dados quantitativos, indicando que mais da metade dos usuários de LE demonstraram algum grau de insatisfação com sua voz. Verificou-se que o ambiente e o interlocutor influenciam diretamente a inteligibilidade da fala. Ademais, sujeitos que autoavaliaram sua qualidade vocal como ?boa? nem sempre atribuíram notas igualmente positivas à inteligibilidade da fala ? e vice-versa. Conclusão: Os falantes traqueoesofágicos demonstraram estar mais satisfeitos com sua voz em comparação com os falantes esofágicos e usuários de laringe eletrônica, sendo este último grupo o que apresentou menor satisfação. Os usuários de PTE também apresentaram a melhor autopercepção de compreensão de fala, enquanto que os usuários da LE, a pior.

Abstract: Introduction: For appropriate vocal rehabilitation, it is essential to conduct a comprehensive evaluation, including the use of self-assessment tools. Regarding substitute voices, it is known that the anatomical and physiological aspects of voice production and voice quality vary depending on the rehabilitation method used. Therefore, it becomes necessary to compare the results of self-assessment of voice quality among esophageal, tracheoesophageal, and electrolarynx speakers. Objective: To analyze the vocal self-assessment of total laryngectomized individuals according to the oral communication rehabilitation method used. Methods: This is a cross-sectional, observational study with a quantitative and qualitative approach. The sample consisted of 38 total laryngectomized individuals rehabilitated with a tracheoesophageal prosthesis (TEP), electrolarynx (EL), and/or esophageal voice (EV). For the vocal self-assessment, four questions were asked, each related to a parameter: overall voice quality, speech intelligibility, presence of noise, and speech rate/fluency. Participants rated each item on a scale from 0 to 10 and were also asked to orally justify their ratings for the first two questions. Sociodemographic and clinical variables, along with self-assessment responses, were analyzed using statistical tests appropriate to the data distribution, such as the Kruskal-Wallis test and Spearman?s correlation. To support the qualitative analysis, the IRAMUTEQ software was used to generate word clouds and similarity analysis graphs. Results: Among the participants, 17 (44.7%) used TEP, making it the most frequently used method. This group also gave the highest ratings for the ?overall voice quality? parameter. There was a predominance of male individuals with low educational levels, reflecting the typical sociodemographic profile of the laryngectomized population. The qualitative analyses supported the quantitative findings, revealing that more than half of the EL users expressed some level of dissatisfaction with their voice. It was observed that the environment and the communication partner directly influenced the speech intelligibility parameter. Additionally, participants who rated their voice quality as ?good? did not necessarily rate speech intelligibility positively, and vice versa. Conclusion: Tracheoesophageal speakers showed greater satisfaction with their voice compared to esophageal and electrolarynx users, with the latter group reporting the lowest satisfaction. TEP users also reported the best self-perception of speech comprehension, while EL users reported the worst.