Gênero e Sexualidade na Graduação em Enfermagem/UFSC: uma análise das reformas curriculares e da produção dos TCCs

Abstract

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo mapear a presença do tema gênero e sexualidade, incluindo seu modo de abordagem na produção dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) em Enfermagem no repositório institucional da UFSC com foco nos trabalhos defendidos entre 2015 e 2025. Parte-se do entendimento de que a Enfermagem é uma profissão historicamente marcada por desigualdades estruturais de gênero, classe e raça, que podem estar refletidas na sua organização curricular e na produção acadêmica. A pesquisa tem natureza qualitativa, descritiva e documental, dividida em três eixos de análise: (1) reformas curriculares do curso de Enfermagem da UFSC após os anos 2000; (2) abordagem dos temas nos planos de ensino da disciplina “Corpo, Gênero e Sexualidade”; (3) levantamento e análise dos TCCs relacionados às temáticas de gênero e sexualidade. Os dados foram obtidos por meio de consulta aos documentos curriculares disponíveis no site oficial do curso, aos planos de ensino da disciplina entre 2017 e 2025, e aos TCCs arquivados no repositório institucional da UFSC. No total, foram encontrados 390 trabalhos, dos quais apenas 13 abordam diretamente gênero ou sexualidade, representando menos de 5% da produção total no período. A análise revelou que a abordagem de gênero e sexualidade nos currículos é concentrada em uma disciplina obrigatória e pontual, o que limita a transversalidade dos temas na formação. Os planos de ensino da disciplina apresentam avanços recentes, como o uso de linguagem inclusiva e a incorporação de debates contemporâneos, mas ainda carecem de uma abordagem mais crítica sobre a profissão da enfermagem como campo de trabalho feminizado e racializado. Quanto aos TCCs analisados, observou-se que a maioria utiliza abordagem qualitativa, foca na prática assistencial e não contempla experiências das próprias profissionais de enfermagem. A produção sobre o tema é fortemente concentrada em orientadoras que atuam diretamente na disciplina “Corpo, Gênero e Sexualidade”, o que reforça a influência da orientação acadêmica na escolha temática das pesquisas. A escassez de TCCs sobre gênero e sexualidade e a sua concentração em determinados anos e professoras indicam a ausência de uma política institucional que estimule a produção crítica e sistemática sobre essas questões. A pesquisa conclui que, apesar de avanços curriculares pontuais, as temáticas de gênero e sexualidade ainda são tratadas de forma marginal na formação em Enfermagem da UFSC. É necessário ampliar o debate sobre gênero e sexualidade de forma transversal no currículo, somado a inclusão de políticas de incentivo à pesquisa que contemplem as interseccionalidades de gênero, raça e classe na formação e prática da enfermagem, são estratégias a serem adotadas para a formação de profissionais críticos e alinhados as necessidades do seu tempo.

This undergraduate paper aims to analyze the presence of gender and sexuality topics in the Nursing program at the Federal University of Santa Catarina (UFSC), focusing on the Final Undergraduate Projects (TCCs) defended between 2015 and 2025. The study is grounded in the understanding that Nursing is a profession historically marked by structural inequalities of gender, class, and race, which may be reflected in its curricular organization and academic production. The research adopts a qualitative, descriptive, and documentary approach, divided into three analytical axes: (1) curricular reforms in the UFSC Nursing program after the 2000s; (2) the approach to these themes in the syllabi of the course "Body, Gender, and Sexuality"; and (3) the survey and analysis of TCCs related to gender and sexuality. Data were collected through consultations with curricular documents available on the program’s official website, syllabi of the course from 2017 to 2025, and TCCs archived in the UFSC institutional repository. In total, 390 theses were identified, of which only 13 directly address gender or sexuality, representing less than 5% of the total production during the period. The analysis revealed that the treatment of gender and sexuality in the curriculum is concentrated in a single mandatory course, limiting the transversal integration of these themes into the broader training. While recent syllabi for the course show advancements—such as the use of inclusive language and the incorporation of contemporary debates—they still lack a more critical approach to Nursing as a feminized and racialized field of work. Regarding the analyzed TCCs, most employ qualitative methodologies, focus on clinical practice, and do not include the experiences of Nursing professionals themselves. Research on these topics is heavily concentrated among advisors who work directly with the "Body, Gender, and Sexuality" course, highlighting the influence of academic mentorship on thematic choices. The scarcity of TCCs on gender and sexuality, as well as their concentration in specific years and among certain professors, indicates the absence of an institutional policy that encourages systematic and critical production on these issues. The study concludes that, despite isolated curricular advancements, gender and sexuality remain marginal topics in UFSC’s Nursing education. To foster the development of critical professionals aligned with contemporary needs, it is essential to expand cross-curricular discussions on gender and sexuality, alongside policies that promote research addressing the intersections of gender, race, and class in Nursing education and practice.