Title: | Uso de recursos pesqueiros, percepção dos pescadores sobre a contaminação e análise de metais e metaloides na biota da Baía Babitonga, Santa Catarina, Brasil |
Author: | Cunha, Suelen Maria Beeck da |
Abstract: |
A pesca artesanal desempenha um papel fundamental na subsistência, segurança alimentar e preservação cultural das comunidades pesqueiras de todo o mundo. No entanto, a pesca artesanal enfrenta desafios crescentes devido a diversas atividades humanas e às mudanças nos ecossistemas marinhos, especialmente em áreas urbanas próximas a corpos d'água, como estuários, onde os impactos da contaminação ambiental podem ser mais acentuados. Este estudo investiga o conhecimento ecológico local dos pescadores artesanaisda Baía Babitonga, Sul do Brasil, com o objetivo de examinar os fatores que influenciam a seleção de recursos pesqueiros para venda ou consumo, considerando atributos ecológicos (nível trófico e habitat) e valor comercial. Em uma segunda abordagem, buscamos compreender como a pesca artesanal e o consumo do pescado se relacionam com a contaminação ambiental, a partir da percepção dos pescadores e da análise de metais e metaloides em espécies-alvo.Foram entrevistados 80 pescadores artesanais de 21 comunidades pesqueiras para compreender o direcionamento do pescado para venda e consumo, e entrevistamos 39 pescadores de três comunidades para avaliar a percepção sobre contaminação e analisar a presença de metais e metaloides dos recursos pesqueiros em diferentes áreas de pesca. Os resultados revelaram uma ampla sobreposição entre as espécies comercializadas e consumidas pelos pescadores: das 93 espécies registradas como vendidas e 81 como consumidas, 79 foram citadas em ambas as categorias. Apenas duas espécies de peixe foram citadas exclusivamente para consumo, enquanto 15 espécies (14 peixes e 1 molusco) foram citadas exclusivamente para venda. Espécies de maior valor comercial (R$36,25 por kg) e maior nível trófico (4,50) costumam ser direcionadas à venda, enquanto aquelas com baixo valor comercial (R$8,28 por kg) e baixo nível trófico (2,01) foram predominantemente consumidas. Das duas espécies classificadas como quase ameaçadas pela IUCN (International Union for Conservation of Nature), duas são consumidas e uma é também vendida. Já entre as seis espécies classificadas como vulneráveis, todas são vendidas e cinco são consumidas. Uma espécie classificada como criticamente em perigo é tanto vendida quanto consumida, enquanto das duas classificadas como em perigo, duas são vendidas e uma é consumida. Os resultados também mostraram que apenas 7,7% dos pescadores mencionaram evitar áreas de pesca devido à contaminação por metais e metaloides, e apenas 5,1% evitam consumir pescados por esse motivo. No entanto, as análises apontaram que metais e metaloides como cromo e arsênio excederam os limites máximos tolerados pela ANVISA em todas as seis espécies analisadas. As concentrações desses elementos variaram ao longo do estuário, com padrões distintos conforme a espécie e a região de pesca. Esses achados revelam uma desconexão preocupante entre percepção e risco real, e evidenciam que comunidades pesqueiras e consumidores locais podem estar expostos a sérios problemas de saúde pública e insegurança alimentar. Tais evidências demandam ações urgentes de gestão ambiental, com estratégias específicas de monitoramento, comunicação e mitigação de riscos voltadas à realidade da Baía Babitonga. Além de reforçar a necessidade de políticas públicas efetivas, os dados obtidos contribuem para o fortalecimento de uma abordagem de saúde ecossistêmica, essencial para a sustentabilidade da pesca artesanal na região. Abstract: Artisanal fisheries play a key role in the livelihoods, food security, and cultural preservation of fishing communities worldwide. However, artisanal fisheries face increasing challenges due to diverse human activities and changes in marine ecosystems, especially in urban areas near water bodies, such as estuaries, where the impacts of environmental contamination can be more pronounced. This study investigates the local ecological knowledge of small-scale fishers in Babitonga Bay, southern Brazil, aiming to examine the factors that influence the selection of fish resources for sale or consumption, considering ecological attributes (trophic level and habitat) and commercial value. A second approach explores how small-scale fishing and fish consumption relate to environmental contamination, based on fishers' perceptions and the analysis of metals and metalloids in target species. We interviewed 80 artisanal fishers from 21 fishing communities to understand the destination of fish for sale and consumption, and we interviewed 39 fishers from three communities to analyze the perception of artisanal fishers and evaluate the concentration of metals and metalloids in fishing resources from different fishing areas. The results revealed a wide overlap between the species sold and consumed by fishers: of the 93 species recorded as sold and 81 as consumed, 79 were cited in both categories. Only two fish species were cited exclusively for consumption, while 15 species (14 fish and 1 mollusk) were cited exclusively for sale. Species with the highest commercial value (R$36.25 per kg) and highest trophic level (4.50) tend to be targeted for sale, while those with low commercial value (R$8.28 per kg) and low trophic level (2.01) were predominantly consumed. Of the two species classified as near threatened by the IUCN (International Union for Conservation of Nature), two are consumed, and one is also sold. Among the six species classified as vulnerable, all are sold, and five are consumed. One species classified as critically endangered is sold and consumed, while among the two classified as endangered, two are sold and one is consumed. The results also showed that only 7.7% of fishers mentioned avoiding fishing areas due to contamination by metals and metalloids, and only 5.1% avoid consuming fish for this reason. However, the analyses indicated that metals and metalloids such as chromium and arsenic exceeded the maximum limits tolerated by ANVISA in all six species analyzed. The concentrations of these elements varied throughout the estuary, with distinct patterns depending on the species and fishing region. These findings reveal a concerning disconnect between perception and actual risk and show that fishing communities and local consumers may be exposed to serious public health problems and food insecurity. Such evidence demands urgent environmental management actions, with specific monitoring, communication, and risk mitigation strategies focused on the reality of Babitonga Bay. In addition to reinforcing the need for effective public policies, the data obtained contribute to the strengthening of an ecosystem-based health approach, essential for the sustainability of artisanal fishing in the region. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Florianópolis, 2025. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/267192 |
Date: | 2025 |
Files | Size | Format | View |
---|---|---|---|
PECO0263-T.pdf | 5.666Mb |
View/ |