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O suicídio é um problema importante entre os colonos de Santo Cristo. Neste grupo, as taxas aumentaram ao longo das três últimas décadas, sendo que a média, na década de oitenta, foi de 17,73 suicídios por 100000 habitantes. Mais preocupante que as taxas é a constatação de que os suicidas, procuram o profissional de saúde, sem que estes reconheçam sinais ou sintomas envolvidos nesta ação. Estas observações motivaram a propor este estudo para compreender a construção sociocultural dos suicídios de colonos, predominantemente de descendência alemã e religião católica, objetivando contribuir no fortalecimento do papel dos profissionais de saúde dentro deste contexto. A partir da antropologia da saúde, foi possível estabelecer uma nova compreensão privilegiando a ação dos colonos no cotidiano, enquanto processo de construção coletiva da realidade, contrastando com o modelo biomédico que compreende saúde-doença de forma linear e causal, desvinculando o cliente de sua história e cultura. É uma pesquisa etnográfica, na qual se dá compreensão à especificidade da identidade do colono vinculado ao espaço, ao tempo, às relações de gênero e de poder como grupo. Permeando esta construção estão os significados de vida e morte que passam a ser representados de forma contraditória e complexa, na qual o suicídio, que é uma das formas de morte deste grupo, faz parte como símbolo, expressando a fragilidade de papel dos homens. A interpretação sociocultural permite conhecer uma outra dimensão da doença e morte. O suicídio, como símbolo de sofrimento, faz parte da realidade construída e vivida por este grupo, que exige dos seus integrantes uma organização societária centrada em autoridades, princípios morais rígidos de previsibilidade das ações, desconfiança com relação as manifestações voluntárias e individuais das pessoas. Neste contexto, os profissionais da saúde não conseguem estabelecer uma comunicação com as pessoas em sofrimento, pois desconsideram a cosmologia como parte da experiência da doença. A antropologia abre esta perspectiva interdisciplinar, permitindo uma compreensão mais holística, social e ecológica do processo de vida e morte, a partir do qual é possível estabelecer uma comunicação e uma compreensão do sofrimento do suicida no seu aspecto individual e coletivo. A compreensão das redes de significados e poder, vinculados aos diferentes símbolos de suicídio, reforça a necessidade de mudança na formação dos profissionais de saúde assinalando como importante a escuta do cliente com relação a sua dor. O enfermeiro passa a ter um papel de mediador enquanto prática social no grupo. |
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