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Dentre os manguezais existentes na ilha de Santa Catarina, Florianópolis, SC, o manguezal do Itacorubi é o que apresenta maior estado de degradação. O aterro de lixo da cidade de Florianópolis figura como um dos principais tensores antropogênicos sobre este ecossistema. Durante aproximadamente 33 anos, 75 milhões de toneladas de lixo urbano foram depositados em 12 ha de áreas de manguezal sem que tivessem sido tomadas medidas para evitar ou controlar o escoamento dos líquidos percolados e a conseqüente contaminação de áreas de mangue contíguas ao aterro. Após seu fechamento, em 1989, ainda hoje se observa em todo entorno do aterro um estado generalizado de degradação com a morte de grande quantidade de árvores de mangue adultas, provavelmente devido à contaminação pelos líquidos que ainda percolam e fluem livremente em direção ao manguezal. Objetivando avaliar, sob condições controladas, os efeitos destes efluentes na sobrevivência e desenvolvimento do componente principal da vegetação neste manguezal, Avicennia schaueriana. 120 plantas jovens desta espécie foram acomodadas em uma casa de vegetação, formando quatro blocos em linha, contendo cinco repetições de seis unidades amostrais (plantas) por tratamento. Os tratamentos consistiram de 5 diferentes diluições, em água destilada, dos líquidos percolados (LPs) coletados no aterro de lixo: T1- controle, 0% (apenas água destilada); T2, 25% de LPs; T3- 50% de LPs; T4-75% de LPs e T5-100% de LPs. Após um período de aproximadamente seis meses foram avaliadas e comparadas, variáveis biométricas e morfoanatômicas tais como: altura, diâmetro do caule, número de entre-nós, número de ramos laterais, número de folhas, área foliar e peso seco das partes aéreas e subterrâneas das plantas; espessura do mesofilo, número de glândulas de sal e número de estômatos. Análises de variância e testes Tukey indicaram haver diferenças significativas entre as plantas tratadas com os líquidos percolados e as plantas do controle. Na maioria das variáveis utilizadas, as plantas contaminadas apresentaram um padrão de crescimento significativamente maior e proporcional ao aumento das concentrações de LPs. Entretanto, apesar do maior crescimento, apresentado pelas plantas tratadas com o efluente, algumas variáveis importantes apresentaram reduções significativas nas médias em relação ao controle e também proporcionais ao aumento das concentrações de LPs. As significativas reduções verificadas nas médias do número de estômatos e de glândulas de sal, estruturas foliares diretamente relacionadas com o desenvolvimento e sobrevivência indicaram que os líquidos percolados do aterro de lixo de Florianópolis alteraram o desenvolvimento destas estruturas nas folhas de plantas contaminadas. Ainda foram observadas ocorrências de alterações morfoanatômicas, significativamente maiores, nas folhas de plantas contaminadas, que apresentavam diversos sintomas característicos do estresse químico vegetal, tais como: clorose, deformações, necrose de partes das folhas e aumento na susceptibilidade ao ataque de organismos agressores. Algumas destas alterações poderiam ser confundidas, no controle, com processos naturais intrínsecos, como predação ou senescência das folhas; porém nestas plantas, a proporção de folhas afetadas era significativamente menor e alguns sintomas estavam ausentes ou ocorriam em menor intensidade. Desta forma podemos concluir que os líquidos percolados do aterro de lixo afetaram o desenvolvimento das plantas tratadas de diferentes maneiras, porém sem causar efeitos negativos sobre o crescimento, durante o período avaliado. Excetuando-se apenas o diâmetro da base do caule, todos os parâmetros utilizados identificaram os efeitos dos tratamentos sobre o desenvolvimento das plantas. Tanto as variáveis que indicaram incremento no crescimento, como as que identificaram alterações no desenvolvimento de estruturas foliares, podem ser recomendadas como variáveis indicadoras dos efeitos destes líquidos sobre esta espécie.. Análises físico-químicas dos líquidos percolados, aparentemente indicaram, através dos valores relativamente baixos de pH e considerávelmente altos de condutividade elétrica que ainda ocorrerm processos anaeróbios facultativos, acidogênicos que fazem baixar o pH e propiciam a dissolução dos diversos componentes do lixo. |
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