Abstract:
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Este estudo analisa a articulação da categoria social no contexto das práticas dos profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), no município de Blumenau, a partir da discussão dos conceitos do processo saúde/doença, dos modelos assistenciais em saúde, da política de saúde e do social. A direção teórica assumida entende a saúde como uma das expressões da questão social, que tem em seu interior dois modelos assistenciais antagônicos (flexneriano e produção social da saúde) que buscam efetivar seus princípios através de concepções de saúde/doença, da caracterização de uma política e de uma perspectiva do social. Neste contexto, encontram-se inseridos os profissionais de saúde efetivando através de suas práticas e concepções modelos de saúde, com uma perspectiva para o social. A pesquisa é qualitativa, utilizando-se da técnica da observação participante, da entrevista não estruturada e o uso do diário de campo. Foram pesquisadas três equipes de PSF em suas práticas profissionais cotidianas: triagem, visitas domiciliares, grupos temáticos, reuniões de equipe e conselho local de saúde. Com estas práticas objetivou-se identificar o conceito de social dos profissionais; as demandas da população trazidas até a unidade de saúde e quais destas são consideradas como sociais; dos encaminhamentos dados às demandas sociais e na identificação do(s) profissionais que se ocupam com estas demandas. Os principais resultados da pesquisa mostram que os profissionais mesmo inseridos na proposta que visa à reorganização da atenção básica como estratégia da construção do modelo de produção social da saúde, ainda vinculam práticas profissionais ligadas ao modelo biomédico. Esta afirmativa é baseada no conceito restrito de social expresso pelos profissionais como "caso" e "problema social de difícil solução". O reconhecimento das demandas sociais que se apresentam nas atividades de triagem, visitas domiciliares e grupos temáticos são pontuais, uma vez que se atrelam ao conceito restrito de social e a ação profissional se direciona para o suprimento de carências. O profissional que possui maior vinculação com as demandas sociais são os agentes comunitários de saúde, pois estão em constante contato com a comunidade embora haja situações em que as demandas não são identificadas e/ou socializadas com os demais profissionais. As reuniões de equipe se caracterizam pelo planejamento das ações profissionais e muitas vezes o único momento em que todos os profissionais se reúnem. Os conselhos locais de saúde estão em processo de construção e caracterizados pela dificuldade dos conselheiros entenderem seu papel e a finalidade do conselho, além da pouca representatividade de usuários na composição do mesmo, evidenciando a fragilidade de articulação entre profissionais e comunidade para o efetivo controle social. Neste sentido, para que o social, na perspectiva do direito, seja ampliado no âmbito das práticas profissional requer que se entenda a saúde como direito universal, da integralidade das ações e na efetividade da construção de um modelo social de saúde. As ações profissionais devem se pautar na criação do vínculo com a comunidade no sentido de reorganizar os serviços a partir das reais demandas expressadas pelos usuários, estabelecendo uma demanda usuário-centrada vinculada à prática cuidadora. Com base nos dados sistematizados, propõe-se a ampliação de profissionais na equipe oficial de PSF, garantindo trabalho amplo com o social. |