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Este trabalho trata da sexualidade e da arquitetura. Através das leituras de Foucault, sobre a sexualidade, e de Bataille, sobre o erotismo, estuda-se a arquitetu-ra e a sexualidade como construções sociais cujas trajetórias se sobrepõem. Assim, o objetivo aqui presente é expressar um retrato bastante amplo destas sobreposi-ções e dar-lhes um sentido atual, sobretudo ao estudar o centro da cidade de Floria-nópolis. A sexualidade é vista como um objeto paradoxal. Trata-se de uma figura his-tórica real caracterizada pela enunciação de discursos como forma de produção de verdade classificatória sobre indivídios, seus desejos e práticas correlatas ao sexo. Este enunciado é produzido num jogo complexo de relações de poder ao longo da história e também se materializa através da arquitetura, conforme cita Foucault, nos espaços de saturação sexual. Porém, antes de constituir-se enquanto razão discur-siva moderna, o erotismo precede a sexualidade como parte de sua natureza ances-tral. A natureza do erotismo relaciona-se aos eventos em torno da transcendência, da vida interior humana, das questões universais que se colocam na apreciação da vida mesmo diante da presença da morte. Nestes eventos, a arquitetura se torna ob-jeto de dispersão, não se configura como exemplar para atos correlatos a práticas ou enunciados, mas como experiência vivida. O aspecto paradoxal da sexualidade e do erotismo reside na incapacidade em se produzir uma verdade plena sem que um se transforme no outro. A sexualidade, mediante os regimes de saturação de condutas, inscreve relações erotizadas de po-der. Da mesma forma, o erotismo se depara, através de seus movimentos oscilantes entre a vida e a morte, com a conciliação, com a chance de encontrar-se com o cole-tivo e estabelecer interdições necessárias à manutenção da ordem e da vida. O sentido atual que se procura alcançar com tais averiguações no âmbito conceitual é a leitura espacial da localidade, uma instância que não se opõe a globa-lidade, mas que se expressa pelo sentido de pertencimento através de realizações originais da arquitetura urbana. Desta forma, também a sexualidade e o erotismo são visitados em suas apreciações locais e o enfoque desta investigação é o centro de Florianópolis. A forma de investigação utiliza-se de um modelo estético, referenciado por Deleuze e Guattari como arte nômade, para designar realizações opostas às institu-cionalizações, opostas a um regime de espaço que se caracteriza como sedentário. Nesta apresentação admitem-se ainda as realizações híbridas situadas entre o ero-tismo - como vertente nômade - e a sexualidade - como enunciação instituída -, vi-venciadas nas formas de apropriação espacial dos sujeitos locais. Visita-se a figura conceitual sujeito entendendo-o como o indivíduo que se contrói mediante processos de subjetivação, seja através do seu assujeitamento a uma realidade institucionalizada, seja através de sua imersão num mundo da auto criação de si. Desta forma, sua eleição de espaços de sexualidade e identidades correlatas torna-se o reflexo deste processo e acompanha a criação da arquitetura. Através do recorrido pela centralidade que concerne ao centro de Florianópo-lis, fez-se o registro de cenas da cidade em momentos diferentes. Estes momentos destacam-se mediante movimentações subjetivas relacionadas ao modelo estético adotado admitindo-se as hibridações de seu significado. Desta forma, o nômade tende a tornar-se sedentário e vice versa. Nesta apreciação de movimentos, a cons-tatação de regimes de tempo para a realização de eventos locais associa-se à cria-ção de corporalidades e espacialidades que se tornaram importantes para avaliar as construções subjetivas nas quais a arquitetura urbana se revela. A materialidade e a fluidez da arquitetura são examinadas a luz deste exercí-cio estético. Ao tomar as construções subjetivas únicas ao local ou reproduzidas se-quencialmente em diversas cidades, a arquitetura se afirma como uma forma de construir através de demandas simbólicas subjetivas. Associa-se o sexo, como um dos elementos desta subjetividade, à demarcação de territórios, mas sempre se ad-mite a possível transitoriedade desta demarcação, sobretuto quando está submetida ao paradoxo que envolve tanto a sexualidade como o erotismo. |
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