Abstract:
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O aumento nas ocorrências de florações de cianobactérias em diversos mananciais de abastecimento, assim como a preocupação com a potencialidade das toxinas produzidas por estes organismos, remete a estudos de processos de tratamento eficazes para este fim. Neste sentido, a flotação por ar dissolvido (FAD) se destaca como um processo eficiente na remoção de células intactas de cianobactérias, de forma a reduzir a potencialidade de liberação de toxinas para a água tratada. A nanofiltração, por sua vez, se apresenta como tecnologia eficaz na remoção de cianotoxina extracelular, e, por este motivo, a associação destes processos como uma seqüência de tratamento para águas oriundas de ambientes eutrofizados, torna-se de ampla relevância, tendo sido adotada como objetivo do presente estudo. A investigação experimental foi realizada, utilizando como água base, água proveniente da Lagoa do Peri, manancial de abastecimento localizado em Florianópolis, SC, e que apresenta elevada densidade de cianobactérias, em particular, da espécie Cylindrospermopsis raciborskii. Os experimentos foram realizados em quatro etapas distintas, subdivididas em função de sua complexidade. Na primeira fase, procurou-se estudar as variáveis referentes ao processo de flotação por ar dissolvido, procedendo-se, em um primeiro momento, a construção do diagrama de coagulação da água da lagoa, visando estabelecer a melhor relação "dosagem de coagulante x pH de coagulação" em função das características da água de estudo. A partir desta determinação, procurou-se avaliar a influência de diferentes parâmetros de projeto sobre a eficiência do processo estudado, considerando a etapa de floculação e o processo de flotação, a saber: gradiente de floculação (Gf); tempo de floculação (Tf); pressão de saturação (Psat); tempo de saturação (Tsat); taxa de recirculação (R); e velocidade de flotação (Vf). Em seguida, promoveu-se a construção do diagrama de coagulação para concentrações mais elevadas de cianobactérias, a partir da inoculação de células de C. raciborskii cultivadas em laboratório, visando avaliar a eficiência do processo em condições menos favoráveis. A terceira etapa consistiu na avaliação da nanofiltração em relação à remoção de saxitoxina e congêneres, utilizando-se duas membranas de nanofiltração (NF-270 e NF-90), com características ligeiramente distintas, em diferentes pressões de trabalho. Na última etapa do estudo, avaliou-se a associação dos processos estudados quanto à remoção seqüencial de cianobactérias e cianotoxinas, em função dos resultados obtidos anteriormente. Os resultados demonstraram a eficiência do processo de flotação por ar dissolvido para a água da lagoa, com remoções de 97,5% de células, 78% de cor e 74% de turbidez, para dosagem de coagulante de 50 mg.L-1 e pH de coagulação de 6,36. Em relação aos parâmetros de projeto avaliados, verificou-se melhores remoções para Gf e Tf de 25 s-1 e 15 minutos, respectivamente, e Psat, Tsat, R e Vf de 400 kPa, 8 minutos, 10% e 5 cm.min-1, respectivamente. A aplicação da FAD para maiores concentrações de célula, neste experimento, mostrou-se menos satisfatória, com remoção de célula igual a 69,4%. Em relação a nanofiltração, verificou-se a eficiência do processo na remoção de cianotoxinas, principalmente para a membrana NF-90, que permitiu a remoção total das toxinas avaliadas, com exceção da toxina GTX-2. A adoção da nanofiltração como tratamento após a FAD resultou em remoções satisfatórias para diversos parâmetros analíticos, considerando cor aparente residual igual a 1 uH e turbidez média de 0,2 uT, com total remoção de cianobactérias. Em função dos resultados obtidos, pode-se considerar que a associação dos processos de flotação por ar dissolvido e nanofiltração, constitui em uma escolha adequada para o tratamento de águas com presença de cianobactérias e cianotoxinas |