Sociologia da ciência versus filosofia da ciência: o debate acerca do Programa Forte

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Title: Sociologia da ciência versus filosofia da ciência: o debate acerca do Programa Forte
Author: Schwinden, Leonardo Francisco
Abstract: Pode o conhecimento das ciências naturais e exatas ser de-terminado por fatores sociais? Barry Barnes e David Bloor assegu-ram que sim. Argumentam que, mesmo nessas ciências, o conteúdo das teorias não é determinado simplesmente pela relação dos indi-víduos com a realidade objetiva, mas, sobretudo, pelas relações entre os indivíduos envolvidos de alguma forma com o conheci-mento. Como em qualquer outra atividade humana, dizem eles, a atividade científica atende a interesses, não apenas externos, mas também a interesses internos; e tais interesses precisam ser mais bem detalhados. O processo de conhecimento envolve complexas e inúmeras negociações entre os cientistas e, o mais importante, elas ficam expressas e determinam o conteúdo do conhecimento, con-forme garantem os autores. Porém, o fato de o conteúdo ser assim determinado não tem relação necessária com sua validade. A vali-dade é dada pelo contexto. Por isso, a pretensão alimentada pelos filósofos da ciência, de determinar a validade das crenças científi-cas de uma maneira independente, baseada tão somente em razões, é uma pretensão ilusória; provavelmente ideológica, conforme Bloor. A validade é, no fundo, credibilidade, uma questão altamen-te social e inevitavelmente relativa.O esclarecimento da credibili-dade das teorias científicas requer, segundo Barnes e Bloor, uma postura imparcial, neutra em relação às avaliações e distinções que são próprias dos contextos das crenças estudadas. Requer também coragem para enfrentar a proteção colocada em torno do conheci-mento. A caracterização da postura requerida no estudo da credibi-lidade das crenças é dada pelos quatro princípios apontados por Bloor causalidade, imparcialidade, simetria e reflexividade e designados por ele de .Programa Forte de Sociologia do Conheci-mento Científico. Como é possível perceber na exposição acima, a proposta feita através do Programa Forte não é uma reivindicação apenas de que a Sociologia participe, junto com a Filosofia, do estudo do conteúdo do conhecimento científico. Mais do que isso, a proposta é que a Sociologia do Conhecimento Científico supera e substitui o do enfoque tradicional da Filosofia da Ciência. A pre-sente tese investiga, portanto, as bases apresentadas por Barnes e Bloor em favor dessa audaciosa proposta. Subsidiando-se nas aná-lises de Larry Laudan, William Newton-Smith e James C. Brown, será defendido que: a alegação de que o enfoque filosófico é irre-mediavelmente incompatível com o enfoque naturalista é uma alegação injustificada. Em parte, é devida ao modo precário e, frequentemente, injusto com que Barnes e Bloor caracterizam o enfoque da Filosofia da Ciência. Será defendido que o enfoque filosófico das razões pode ser ao menos tão científico e empirica-mente aberto quanto o enfoque sociológico centrado em interesses. Os autores falham em reconhecer a autonomia de fatores normati-vos em relação aos aspectos sociais, basicamente, por aderirem, entre outras coisas, a uma interpretação bastante duvidosa da tese da subdeterminação e à igualmente controversa doutrina do Fini-tismo Semântico. Todavia, os graves defeitos identificados na proposta do Programa Forte, não devem impedir a percepção dos motivos para sua colocação, entre eles, a percepção, difundida por autores como Kuhn, de que é preciso dar maior consideração aos aspectos sociais, direta ou indiretamente, envolvidos com o conhe-cimento científico. De fato, os tempos mostram ter havido uma mudança em favor da atenção àqueles aspectos, inclusive no cam-po da Filosofia da Ciência. Não se pode deixar de reconhecer que o Programa Forte é uma das contribuições mais importantes para essa nova perspectiva, embora não seja de todo satisfatório filoso-ficamente.To the question .Can knowledge produced by natural, exact sciences be influenced by social causes?. Barry Barnes and David Bloor answer .Yes.. They argue that even in such sciences the content of theories is not determined just by the relation between people and an objective reality but mainly by the relations between the individuals who, somehow, have to do with knowledge. Just as in any other human activity, they say, science is done according not only to external interests, but internal ones as well; and such interests must be explained. Knowledge as a process involves in-numerable, complex negotiations between scientists; and what is more important, such negotiations influence knowledge and are expressed in it, as Barnes and Bloor maintain. However, the fact that knowledge is determined this way has no necessary relation with its validity. Validity is given by the context. So, the preten-sion of philosophers of science in determining the validity of scien-tific beliefs in an independent way, based exclusively on reasons, is an illusory pretension, probably an ideological one. Validity is ultimately credibility something highly social and inevitably relative. The explanation for the credibility of scientific theories, according to Barnes and Bloor, asks for an impartial stance, which would be neutral as to evaluations and distinctions belonging to the contexts of the focused on beliefs. This asks also for courage in defying the protection put around knowledge. The required stance in the study of the credibility of beliefs is given by four principles put forward by Bloor causality, impartiality, symmetry, and reflexivity and referred to by that author as the. Strong Program in the Sociology of Knowledge.. As one can see from the com-ments above, the Strong Program doesn't merely claim that sociol-ogy takes part along with philosophy in studying the content of scientific knowledge. Moreover, its proposal is that Sociology of Scientific Knowledge supersedes and replaces traditional philoso-phy of science. So, this thesis discusses the fundamentals pointed out by Barnes and Bloor for their audacious proposal. Resorting to analyses by Larry Laudan, William Newton-Smith and James C. Brown, it is argued here that the claim that the philosophical ap-proach is irreparably incompatible with the naturalist one is unjus-tified. It is in part due to the uncertain often unfair way Barnes and Bloor characterize the philosophical approach to science. It is argued for that the philosophical approach (which resorts to reasons) may be at least as scientific and empirically open as the sociological approach, centered on interests. Barnes and Bloor fail in recognizing the normative elements related to the social aspects of science; and this is so basically because they en-dorse a highly dubious construal of the underdetermination thesis, among other things, as well as the equally controversial doctrine of Semantic Finitism. Yet, the serious imperfections found in the proposal of the Strong Program must not prevent us from seeing the reasons for maintaining it, among them the perception spread by authors such as Kuhn that it is necessary to pay more attention to the social aspects (directly or indirectly) involved in scientific knowledge. In fact, nowadays we see that a change occurred, re-sulting in more attention paid to the social aspects of knowledge, including in philosophy of science. From this point of view, even though the Strong Program is not fully satisfactory philosophically speaking, it must be recognized that it is one of the most important known contributions.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2010
URI: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/93946
Date: 2012-10-25


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