Abstract:
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A pesquisa apresentada tem como objetivo compreender de maneira mais ampla o centro histórico no contexto das cidades contemporâneas, através da relação entre os valores a ele atribuídos pela visão própria do campo do patrimônio e os valores construídos no interior desse espaço urbano praticado por seus usuários. Partindo do campo patrimonial, que considera os centros históricos como os testemunhos mais tangíveis da diversidade cultural, religiosa e social da humanidade, a pesquisa agrega conceitos da arquitetura e urbanismo e da antropologia urbana com o intuito de imprimir ao objeto uma visão abrangente e interdisciplinar que auxilie na compreensão da relação entre os aspectos materiais e subjetivos inerentes ao patrimônio urbano. Enfocando a realidade brasileira, é analisado o contexto de Paranaguá, cidade portuária no litoral do estado do Paraná, que tem o seu centro histórico protegido pela legislação municipal de zoneamento e pelas legislações estadual e federal de tombamento. Discutindo o caráter sacralizado atribuído pelas instituições patrimonialistas, busca-se situar o centro histórico no ponto de encontro entre duas trajetórias dinâmicas, construídas temporalmente: uma que corresponde à das definições conceituais e políticas que envolvem a preservação do patrimônio urbano e cultural; e outra que corresponde à dinâmica própria da cidade, com expansões e estagnações do território, transformações culturais, econômicas e sociais. A análise da dinâmica urbana se deu a partir dos usos do centro histórico, pois, compreende-se que eles costuram conexões com outras partes da cidade, com outras realidades e com outras temporalidades, materializam relações de poder que dão ao espaço um caráter político e permitem a compreensão da relação entre os componentes materiais e subjetivos do espaço urbano. Tais usos foram investigados a partir da realidade atual, através de observações in loco, interlocuções com os praticantes ordinários da cidade, entrevistas qualitativas, documentos e registros audiovisuais; mas também considerando uma dinâmica de permanências e transformações referenciada em dados históricos, geográficos, iconográficos e jurídicos, focando três temas: a relação da cidade com o Rio Itiberê, as trocas comerciais e a religiosidade. Analisando a relação dual foi possível detectar uma desconexão entre as duas visões, sobre a qual a compreensão mais ampla do centro histórico poderia subsidiar as decisões patrimoniais em uma perspectiva mais mediadora. |