Abstract:
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Esta tese expõe os resultados de uma investigação sobre os contextos práticos de explanação que serviram de base para justificar a resistência à execução do Tratado de Madri e resultaram na guerra guaranítica. Interessou-nos verificar a qualidade dos argumentos que foram utilizados por diferentes agentes para validar ou refutar tais práticas, com especial ênfase para jesuítas, guaranis e representantes das coroas que estiveram no centro dos conflitos. Suspeitamos que a habilidade argumentativa desses agentes contribuiu, decisivamente, para a mobilização de sistemas de crença que mobilizaram conceitos políticos fundamentais para a tentativa de sustentação do projeto civilizacional da Companhia de Jesus e do projeto colonial das coroas ibéricas. Por trás da reafirmação católica do direito divino dos reis, tanto jesuítas como indígenas desenvolveram um jogo argumentativo em que transpareceu a resistência aberta e declarada a qualquer poder, seja português ou espanhol, que pretendesse negar-lhes direitos de propriedade e exercício das virtudes próprias das comunidades cristãs. Com isso quebrou-se de vez a tão cara tese escolástica de servidão voluntária, o que resultou na façanha histórica e inédita de rebelião armada de índios guaranis contra sistemas monárquicos absolutos compostos pelos últimos reis católicos da Europa. |