Abstract:
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Apresento neste estudo, inicialmente, a constituição do projeto de educação bilíngue do Instituto Federal de Santa Catarina, campus São José. Procuro analisar como alunos surdos de uma turma do Curso de Ensino Médio Bilíngue Libras/Português e alunos ouvintes de uma turma de Ensino Médio significam a escola e como percebem o outro diferente ao seu grupo. Os dados foram obtidos através de entrevistas com quatro alunos surdos – com a participação da intérprete da língua de sinais – e quatro alunos ouvintes. Todas as entrevistas foram filmadas e realizadas individualmente com cada sujeito. Para a análise dos dados, foi realizada análise temática a partir das transcrições das entrevistas. Foram estabelecidas as seguintes categorias temáticas: Escola e estudo – para quê?; Imagem do professor; Concepção sobre a surdez, o estudar na mesma classe e a interação com o ouvinte. Teoricamente, as discussões dos dados consideraram a concepção histórico-cultural sobre língua(gem), os conceitos foucaultiano de poder disciplinar e norma, no que se refere aos mecanismos da criação dos normais e, consequentemente, dos excluídos. Os resultados indicam que, do ponto de vista do estudante, a escola é entendida como instituição normalizadora, mas, ao mesmo tempo, como lugar de humanização. Ela é percebida, pelos alunos ouvintes, como um espaço de disciplinamento e como uma etapa obrigatória e necessária para se certificar para o mundo do trabalho; e, para os alunos surdos a escola, que adota uma proposta bilíngue, representa um lugar onde eles podem se olhar como seres humanos que partilham uma língua comum e viva, fator necessário para o processo de subjetivação e para o sentimento de ser parte de uma comunidade mais ampla que a própria família. |