Abstract:
|
No marco das ditaduras militares na América Latina, os movimentos insurgentes, liderados pela esquerda socialista, promoveram o debate político que colocava em pugna os rumos econômicos do continente. Nesse contexto, La Casa de las Américas, sediada em Havana, Cuba, fomentou as discussões sobre o intelectual revolucionário, cuja atividade giraria em torno da formação das massas populares, contribuindo para a construção e defesa da Revolução. Dessa forma, a literatura desse período se formula como uma espécie de refundação da Nação latino- americana, em que a denúncia dos horrores dos regimes ditatoriais fazia parte da luta ideológica, lançando as perguntas para que escrever? e para quem escrever? , colocando a literatura como documento de uma realidade esfacelada. Contudo, podemos observar que algumas das obras publicadas nesses anos escapam do panfletarismo piegas, privilegiando narrativas fragmentadas e identidades outras, sem se furtar ao debate político da época. Assim, essa pesquisa propõe uma leitura constelacional das obras Zero: um romance pré-histórico de Ignácio de Loyola Brandão e Las historias prohibidas del Pulgarcito de Roque Dalton, ambas publicadas em 1974. Nesse entrecruzamento das narrativas, propomos uma leitura a partir do signo de morte , em que os espectros, conforme Jacques Derrida em Espectros de Marx: o estado da dívida, o trabalho de luto e a nova internacional (1993), retornam nas ruínas do presente para questionar tanto a memória como a identidade do que se convencionou chamar de América Latina. Nesse sentido a reflexão desta tese é uma proposta pela problematização da configuração da memória e da história latino-americana implícita nos projetos nacionais instaurados após as independências e pela compreensão de como opera uma literatura que está na contramão da ideologia nacional nos contextos de estado de exceção durante os regimes ditatoriais cívico-militares que assolaram a América Latina na segunda metade do século XX e que se estende até a atualidade. |